sexta-feira, 31 de julho de 2020

O novo normal I




A reabertura e os velhos hábitos

Em Brasília, onde moro, quase todas as atividades econômicas de prestação de serviços estão reabertas. Se era o caso de reabrir tão cedo ou não, não será a pauta desse artigo. Particularmente não concordo. Cedo demais em virtude das altas taxas de pessoas infectadas ou se infectando, transmissão alta e mortes ainda em ascensão. Hospitais quase ou já saturados. Falta de testagem ampla e acessível.

Mas já que permitiram reabrir, vou tomar como exemplo os restaurantes. Foram emitidas normas pelas autoridades de saúde. Provavelmente uma boa parte desses estabelecimentos está seguindo. Mas esqueceram um fator crucial: o comportamento dos frequentadores. Não o comportamento determinado pela Vigilância Sanitária, mas o comportamento social que, seja pela falta de informação ou mero hábito, coloca em risco torna menos efetivas as regras estabelecidas.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

O sentido de existir


Descrição: Profissional de saúde segura bebê após vacinação. Proibida a reprodução.


O escritor português Valter Hugo Mãe disse certa vez que é o desejo de construção que impulsiona nossa vontade de viver e que todo o reto seria desperdício de tempo e vida. Existir é ser impulsionado a buscar permanentemente soluções para problemas que não apenas nos atingem diretamente mas, sobretudo – pelo menos para alguns – criar soluções para desafios reais ou,  porque não, ainda nem presentes no cotidiano da existência coletiva. Para além disso, penso que estar presente de corpo e alma no fluxo da aventura humana, seja principalmente se importar com o sofrimento do outro. Vivemos até agora, antes dessa catástrofe causada pelo Covid, gravitando e nos importando apenas com nossos umbigos. Muitas vezes desperdiçando nosso tempo com problemas inexistentes, criados por nossa tendência a nos deixarmos  levar por medos irracionais ou fantasias de nossa imaginação.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Na figura o quadro "O Caçador" de Fernando Botero. 2017.
Chego no supermercado às quatro da manhã. Cansado do trabalho que havia terminado. Serviço pesado. Isolamento acústico de portas. Faltava mamão, banana, shampoo e queijo em casa. Acordar sem queijo e um café preto é a morte. Ninguém nos corredores todos arrumados para a clientela matutina. Frutas e legumes repostos e bonitos. Indo para o caixa vejo à minha frente, num andar pachorrento, um gordinho de calças de malha azul claro e tênis marrons. Parecia uma figura de Botero. Lembrei do quadro "O Caçador". O homem, ao invés da espingarda e do coelho, tinha nas mãos uma garrafa de Coca-Cola de meio litro e dois pacotes de hambúrguer pronto Sadia. Era a caça do dia, ou melhor, da madrugada. A camisa azul com logotipo amarelo e o crachá, pendurado em um pescoço quase inexistente, denunciavam que o homem trabalhava em um banco ao lado do mercado. Um centro de tecnologia da informação. Devia pesar uns cento e quarenta quilos fácil. /os pés arqueados para dentro forçando o calçado já bem deformado. Me lembrei dos meus dias de mais de cem. E que hoje, aos setenta e cinco, me parecem distantes e inimagináveis. Equilibrados precariamente em minhas mãos esquecidas de um cesto ou carrinho, estavam um mamão, quatro bananas, o queijo gouda e uma garrafa de tinto. Não é tão difícil assim fazer dieta. É questão de urgência e escolha. e muita força de vontade. No estacionamento vi que ele caminhava para o carro. Nem precisava, pois o trabalho fica ao lado. Fiquei imaginando ele sentado em sua mesa, às voltas com os bits e bites, seus dois sanduíches requentados no microondas e o meio litro de refrigerante. Haja saúde! 

sexta-feira, 30 de março de 2018

O que nos sobra? O que nos falta?


Acordei tarde e, mergulhado no trabalho, nem vi que o estômago estava reclamando por minha atenção. Entro no Girafa´s às cinco da tarde. Pra quem não conhece é uma mistura de Macdonald com restaurante popular. O prato simples com arroz, feijão, carne e salada é barato. Em um feriado modorrento com tudo fechado e o que estava aberto, caro, a escolha era obvia. Passo por um casal de namorados conversando animadamente. Já haviam terminado o lanche. Mais duas mesas com duas senhoras idosas. Solitárias. provavelmente, pela hora, jantando. Faço meu pedido e me sento. Uma menina de uns sete anos, se aproxima do casal de namorados. Pela conversa e o jeito da garota, presumi que pedia para lhe pagarem um lanche. A moça da mesa lhe pergunta a idade e ela mostra, com os dedos das mão que tem oito anos. A moça se dirige ao caixa pega o cardápio e depois de deixar a garota escolher, paga o lanche e a convida a sentar com eles.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Sempre as mesmas histórias...

Link para a matéria citada: https://istoe.com.br/policia-prende-suspeito-assassinar-jovem-durante-carona/
Mais uma mulher assassinada. Mais um crime premeditado. Mais um latrocínio. Mais violência. Mas descaso das autoridades e ineficiência do Judiciário. Velhos enredos para criar estórias novas. E tristes. Quando mudaremos o curso das coisas?

Uma moça jovem, 22 anos, combina uma viagem em um aplicativo de caronas pela internet. Mais um golpe. O assassino fingiu que se tratava de um casal e combinou a viajem. No ponto de encontro apenas o homem apareceu. A mulher, mesmo assim aceitou levá-lo. Não foi longe. No meio do percurso mais dois comparsas ajudaram a estuprar, matar e roubar a jovem.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Violência contra a mulher: há o outro lado da moeda..

Atercino Ferreira de Lima Filho, 51 anos, condenado injustamente tenta provar que é inocente. Foto: Reprodução da Folha de São Paulo
Sim, os números ainda são alarmantes. Há muito ainda que fazer para acabar com o feminicídio, a violência contra a mulher, os números alarmantes de estupros e a desigualdade de condições de emprego e renda entre mulheres e homens no Brasil e no mundo. Mas é preciso pensar que toda moeda tem dois lados. Que injustiças também são cometidas contra os homens em nome da punição severa que a situação requer. Juízes, promotores e delegados de ambos os sexos e um sistema judiciários pressionado pela opinião pública, por milhares de processos que se amontoam nos fóruns, pela urgência em resolver as causas e mitigar o problema, acabam cometendo erros.

A doutoranda Olivia devia vir de férias ao Brasil...

No Brasil que vê o sol nascer quadrado as vezes vive menos ansioso do quem levanta antes dele pra ganhar a vida honestamente. Fonte da imagem: Getty Images
Saiu na BBC Brasil. Matéria alertando que mais de 13 milhões de brasileiros, eu incluído, sofrem de ansiedade. O artigo original pode ser lido clicando aqui. Segundo a OMS, o Brasil tem cerca de 6,4% da população sofrendo do mal. O número é quase o dobro da média mundial. Fico me perguntado o porquê. Afinal o país é a terra da alegria, do carnaval, do futebol e da alegria. Turistas que vêm para cá se encantam com o jeito descontraído e informal da nossa gente.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Sobre sustentabilidade, distribuição de riqueza e sapatos...

Sapateiro ensinando o ofício a um aprendiz. Foto: Autor ignorado.
Conversava com uma amiga, durante um agradável café, sobre hábitos de consumo e preço das coisas. Particularmente itens que tem preços mais altos em virtude de marca ou fama. Ela me mostrou um belo par de sandálias, em estilo retrô  azul marinho, que estava usando. Foram feitos sob medida e por encomenda. Me dizia que foram caros. Perguntei a ela se teriam sido mais caros que um modelo caro de uma dessas marcas famosas de sapatos femininos. Me respondeu que seriam o dobro do preço.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Lucrando com as mazelas... favela-commodities


Mais um caso de assassinato na favela. Mais uma vez a PM mata. E segue a cantilena de sempre. Por quarenta e oito horas a notícia vai alimentar feeds de notícias e manter a audiência em alta nas redes de TV. Especialistas serão ouvidos, discursos vazios serão proferidos pelos habituais representantes do poder público e da sociedade civil. Depois tudo acaba. Uma nova tragédia deve ocupar o vácuo deixado. Tragédia dá lucro e muita gente ganha.

terça-feira, 10 de outubro de 2017

O nu na arte, na minha arte...

Fotografia da série "Não me olhe assim desse jeito..." (Brasília, 2004). Foto Marcelo Ruiz

Para mim, como artista/fotografo, um corpo nu e apenas um amontoado de argila, material que usamos para esculturas, seja para fazer um molde que posteriormente será usado para fundir a peça definitiva em bronze ou cozido em altas temperaturas para se tornar a escultura em si. No contexto do meu trabalho, um corpo nu é apenas um suporte, um material onde vou expressar meu pensamento/desejo/motivo em realizar determinado trabalho.

domingo, 8 de outubro de 2017

Exclusão social, violência e desamparo não são exclusividade de um gênero.

Artigo original disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/10/1925287-de-advogado-a-professor-diplomados-viram-moradores-de-rua-em-sao-paulo.shtml


Reportagem  bastante perturbadora publicada na Folha SP em 08/10/2017A matéria cita uma pesquisa realizada em 2015, na cidade de São Paulo, pela FIPE, informando que nesse ano haviam cerca de 16 mil pessoas sem teto. A matéria focou nos que, dentro desse universo, tem formação superior, já foram comerciantes, empresários e empregados com carteira assinada. Escolheram cinco homens, moradores de rua, com esse perfil diferenciado, para representar um universo provavelmente bem maior que as estatísticas oficiais. 

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

O QUE ESTÁ HAVENDO NO BRASIL (E NO MUNDO)?????

Interior da creche de Janaúba que foi incendiada nesta quinta (5) (Foto: Natália Jael/Inter TV Grande Minas)

Tempos atrás eu publiquei um artigo sobre as ideologias sub-repticiamente veiculadas em séries de televisão americanas (ou de outras nacionalidades). Falava especificamente do seriado Walking Deads (lançado em 2010), que teve uma estrondosa audiência. O momento social do lançamento não poderia ser mais propício ao sucesso. Afinal, a crise de 2008 iniciada nos Estados Unidos em 2008 já havia contaminado todo o sistema financeiro mundial. Menos o Brasil, que segundo o governante da época, seria apenas uma marolinha.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Mulher pelada na arte pode...homem é pedofilia...gente hipócrita!


Na imagem: Cartaz do coletivo artístico feminista Guerrilla Gils, fundado em 1885 nos Estados Unidos. 
"Uma grande questão para os museus hoje em dia é: daqui a 100 anos, se tudo o que eles tiverem for o que esses bilionários doaram para eles, ou doaram para eles agora, isso não vai ser realmente uma história da arte. Será uma história dos mesmos poucos artistas. E nós sentimos que isso não é a história da arte — é a história da riqueza e do poder. Museus necessitam fazer tudo o que estiver ao seu alcance para colocar em exposição uma variedade muito maior de artistas, colecionar a história inteira da cultura que eles dizem representar." (Kathe Kollwitz, uma das fundadoras do grupo)

O grupo feminista Guerrilla Girls, que há trinta anos faz arte engajada em denunciar o modelo machista de domínio da sociedade , não apenas nas artes, vai fazer sua sua primeira exposição individual no Brasil no MASP (SP) a partir do dia 29 de setembro. Estará aberta mais uma temporada de embates, conflitos, críticas e ódios velados e explícitos. O trabalho delas é sempre forte na crítica social e chocante algumas vezes. Então quem é do bem, corre lá pra prestigiar as meninas. E quem é do mal já preparem os perfis falsos nas redes e os discursos de ódio prontos e vazios.  

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Quem são os tarados?

Reprodução parcial da página do Gregório na Folha SP. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2017/10/1923414-toda-nudez-sera-castigada.shtml

Gostei do posicionamento do Gregório Duvivier em seu artigo para a Folha de São Paulo! Cito abaixo o trecho inicial:

"Um artista nu permite que espectadores manipulem suas articulações. Uma criança, acompanhada da mãe, toca no seu pé.
Sugiro às pessoas que viram erotismo nessa cena que procurem tratamento psicológico. Amigo, você sofre de alguma doença grave: ou tem tesão em crianças, ou tem tesão em pés, ou tem tesão em crianças tocando em pés. Ou é pedófilo, ou podófilo, ou pedopodófilo[...]".

É assustador ver para onde caminha a (falta da) cultura e educação de qualidade no Brasil. Estamos voltando no tempo, passando já das fogueiras da Inquisição e indo em direção aos tempos que, ainda pelados e peludos, nos matávamos usando paus, pedras e pedaços de ossos de animais que comíamos crus, na escuridão de nossas tocas. 

sábado, 30 de setembro de 2017

Desagravo a Elisabete Finger

A artista, coreógrafa e pesquisadora Elisabete Finger. Fonte da imagem: Google.

Mais um post odioso cai em meu Facebook. Dessa vez, após a repercussão do vídeo da mãe interagindo junto com uma criança (sua filha) com um artista durante performance acontecida no MAM-SP, que gerou comentários grotescos e ignorantes de ódio e recriminação, um jornal resolve atacar e expor a mãe. Está aberta a temporada das fogueiras! Queimem tudo. De livros a pessoas. Em nome de um de algo que alguns radicais chamam de cultura. Que cultura?

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Censura ou bom senso?

Reprodução de post no Facebook. Fonte original disponível em: http://www.ilisp.org/noticias/museu-de-arte-moderna-de-sao-paulo-faz-exposicao-onde-criancas-tocam-homem-nu-veja/

Vídeo postado no Facebook gerando comentários revoltados e, como sempre, polarizados. No vídeo postado no site Ilisp.org, uma criança com outro adulto, toca no corpo nu do coreógrafo Wagner Schwartz. que está deitado, inerte, no chão do espaço onde acontece a performance intitulada La BêteA maioria dos comentadores pergunta se isso é arte ou lixo. Na verdade ja afirmam e condenam como lixo. Mas a pergunta que proponho aqui não é discutir se se trata de arte ou não. Mas sim o que é censura, quando ela deve ser aplicada e se ela deve ainda existir, na forma da legislação atual. Diversos tipos de restrição, principalmente em relação às manifestações artísticas, ainda existem no Código Civil e na Constituição.

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Igualdade e equidade: resumo da ópera em 10 atos...


Leio no Fronteiras do Pensamento um artigo do economista Thomas Piketty (que pode ser lido aqui), falando sobre a persistência da desigualdade de renda entre 2001 e 2015. Pincei do texto dez constatações dos autores do estudo que proporcionam uma visão lúcida do porquê, mesmo após 15 anos de políticas sociais alardeadas como o meio de acesso a um país com distribuição de renda justa e equilibrada e erradicação da pobreza, nos encontramos na mesma situação de quase duas décadas de sua implantação:    

1 - A maior parte do crescimento econômico neste século foi apropriada pelos 10% mais ricos da população;
2 - Esses 10% mais ricos ampliaram sua participação na fatia da renda nacional em 1% passando de 54,3% para 55,3% de 2001 a 2015;
3 - A participação da renda dos 50% mais pobres também subiu 1 ponto percentual, passando de 11,3% para 12,3%.

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Desigualdades, obscenidades, elites e super elites...

Indígena tenta impedir reintegração de posse no AM. Foto vencedora do Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos. Luiz Gonzaga Alves de Vasconcelos/ Jornal A Crítica (2008).

Artigo lúcido do Sakamoto em seu blog. Mas chamo à atenção uma frase: "As recomendações do relatório para reduzir esse quadro sinistro passam por uma Reforma Tributária com justiça social ..."

Justiça social é algo muito além de reformar apenas a política tributária. Porque cobrar mais de quem ganha mais e isentar quem ganha menos é justo, mas insere no problema da desigualdade a noção de duas justiças sociais. Na verdade temos várias "justiças sociais" no Brasil. Que alimenta séculos de desigualdade.Como o autor fala mais adiante, o necessário seria necessário "que houvessem botes salva-vidas para todos". Isso é justiça social.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Desigualdade de distribuição de renda: curiosidades e coincidências...

Na montagem: gráficos comparativos da desigualdade de distribuição da desigualdade de renda entre alguns países. Fonte: https://www.nexojornal.com.br/grafico/2017/07/31/A-evolu%C3%A7%C3%A3o-da-desigualdade-de-renda-no-Brasil-e-no-mundo
Pesquisando em um site, me deparei com gráficos interessantes sobre a desigualdade de distribuição de renda entre alguns países no mundo. Indo mais além, resolvi pesquisar em dados disponíveis em sites das Nações Unidas, as condições econômicas e indicadores sociais e financeiros de alguns países que escolhi para ilustrar esse post. O que me intrigou foi a semelhança de perfis. Primeiro entre dois países com os melhores índices de Gini, porem com PIB's, renda per capta e populações bastante contrastantes como a Noruega e a França. Depois comparei economias tão diversas e díspares como os EUA, a maior economia do planeta, e demais países como o Haiti, que atualmente ocupa os últimos lugares nos diversos índices de desenvolvimento e riquesas.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Daiyo-kangoku!

Fonte da imagem e texto original do blog disponível em : http://www.whatsdiario.com/2017/09/prisao-no-japao-relato-de-um-brasileiro.htm
Daiyo-kangoku! - Ou porque a criminalidade no Japão é baixa, a segurança é alta e as pessoas são educadas, respeitadoras das leis e trabalham duro...
Recebi esse artigo em minha timeline do Facebook, que pode ser lido clicando aqui. Em princípio pensei se tratar de mais um blog sensacionalista, criado para receber visitas e hits em anúncios. Pelo depoimento do "tal brasileiro que é amigo de um policial", achei a coisa toda meio fantasiosa.