quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Participação nos lucros e meritocracia: crime e castigo...

Empregados da AppNexus, nos escritórios de NY. A companhia retirou a estrutura de bônus salariais de alguns trabalhadores e usou os recursos para aumentar os salários mensais básicos de toda a equipe. Crédito da imagem: PHILIP MONTGOMERY FOR THE WALL STREET JOURNAL

Bom dia! Leio no Wall Street Journal essa manhã: a tendência para as políticas de remuneração de funcionários, nas empresas inseridas nos mercados onde o desemprego anda em baixa – por favor excluam nossa economia falida e desemprego estratosférico dessa realidade – será mudar o foco dos gastos com bônus de incentivo a seus trabalhadores. As pesquisas demonstram que esses empregadores, diante da perspectiva de menor crescimento dos lucros para os próximos anos, querem manter seus orçamentos em níveis conservadoramente baixos.


Por outro lado, necessitam ganhar em produtividade e inovação para continuarem aumentando sua capacidade de abocanhar a melhor e a maior fatia do bolo nos mercados onde atuam.  O bom e velho capitalismo predatório. Para ganharem em inovação, necessitam reter talentos. Manter esse capital social diferenciado, nos mercados onde o desemprego está em baixa – mais uma vez deixem de fora o ufanismo verde-amarelo – requer políticas de remuneração baseadas na boa e velha meritocracia e distribuição bônus anuais aos empregados.

Nas empresas pesquisadas, a tendência para 2018 será a seletividade maior na concessão desses benefícios. Não que isso seja de todo ruim. A ideia, em algumas empresas é diluir essas gratificações anuais, muitas vezes baseadas nos salários individuais, aumentando de forma linear o rendimento mensal de toda a equipe. Em outras, onde mulheres estão à frente dos departamentos de gestão de pessoas, a meta é diminuir a desigualdade de salários entre gêneros.  São boas e más notícias.

Em média, essas empresas vão usar cerca de 12% do montante de recursos antes destinados a bonificar toda a equipe, para remunerar os colaboradores que realmente se esforçaram para atingirem metas e resultados. O restante será diluído na forma de aumentos nos salários mensais do restante dos trabalhadores. Para os felizardos que continuarão a fazer jus ao benefício, a pressão por resultados irá aumentar e as metas serão maiores.

Para os empresários consultados na pesquisa, a manutenção de políticas, mesmo mais restritas, de bonificação por resultados continua a ser vista como forma de captar e reter talentos, já que em mercados com níveis de empregabilidade alta a competição pelas melhores cabeças é mais acirrada. Ao contrário, nos mercados onde o desemprego é alto e a remuneração média dos trabalhadores é baixa, além de não haver incentivo para que empregadores mantenham programas de participação em lucros e resultados, onde esses existem, sobrevivem mais devido a leis e acordos trabalhistas, que garantem a continuação desses benefícios.

De uma maneira geral, as empresas que pagam bonificações, tem a maior parte de seus trabalhadores ligados a sindicatos anacrônicos, que defendem mais interesses políticos e ideológicos do que ao próprio associado. Há casos mesmo tão esdrúxulos, que as negociatas nas mesas de acordos de dissídios coletivos, revelam lideranças sindicais mais comprometidas com os patrões do que os próprios sindicatos patronais.

Outro fator que influencia na baixa eficiência do mecanismo de gratificação por produtividade e lucro sociedades como a brasileira, é a própria “esperteza do trabalhador.  Os chamados “nós cegos” na visão dos demais colegas, sabedores que ao final de determinado período, se esforçando ou não, receberão os trocados da gratificação, permanecem na inércia. Acabam influenciando os “carregadores de piano”, que depois de um tempo se esforçando em criatividade no interesse da melhoria dos processos de trabalho, percebem que receberão a mesma recompensa dos que ficaram na sombra e água fresca.

Os empresários, por sua vez, sabedores que os gastos com os programas de incentivo pouco trarão de resultados na lucratividade, passam a usar esses programas como forma de sedução na captação e manutenção de talentos e como forma de manutenção do restante da massa produtiva remunerada com baixos salários. A pressão da panela no fogo da má remuneração, principalmente nas funções menos valorizadas, acaba sendo aliviada semestralmente ou anualmente com a “merreca” do abono de participação nos lucros.

E no dia que o engodo cai na conta bancaria, todos – carregadores de piano e nós cegos – saem na hora do almoço, que nesse dia não será “marmitão”, para comemorar aquele dinheirinho extra, que provavelmente em questão de dias ou horas, sumirá das contas, descontados pelos bancos para cobrir os empréstimos atrasados e o cheque especial no vermelho. Dando início a um novo ciclo de dependência financeira desses trabalhadores.


Falar de uma mudança na forma de distribuição dos programas de incentivo, tornando-os dependentes realmente da contribuição individual de cada empregado, a que se chama de meritocracia, nos tempos sombrios em que vivemos, quase um crime. Com ideólogos de plantão comparando esse tipo de pensamento aos crimes de discriminação racial, de gênero ou religião. Definitivamente, nessas terras de maleitas e malárias, falar em remunerar melhor quem se sobressai por conhecimento ou esforço, obtendo sucesso pessoal, é pecado mortal. E mesmo para além da questão da remuneração diferenciada, o próprio sucesso individual incomoda muita gente. Ser bem sucedido à custa do próprio esforço – mérito – no Brasil virou crime.

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