terça-feira, 2 de março de 2021

Estamos no buraco...

 


Brasil, dois de março de 2021: 1.800 vidas perdidas para a Covid. Se a média móvel não aumentar – mas tudo indica que vai – em dois de abril próximo serão mais 50.000 mortes. Passaremos a trágica barreira dos 300 mil brasileiros perdidos para o vírus. Nesses próximos trinta dias não conseguiremos vacinar, com duas doses, mais do que 2% da população brasileira.  E mesmo que conseguíssemos, seriam necessários mais 30 dias para que a eficácia máxima dessas vacinas fosse atingida.

Precisaremos que mais da metade da população seja vacinada para que a doença regrida a números que representem as infecções e óbitos similares a outras doenças que são controladas com vacinas. Como a gripe, o sarampo, a tuberculose, etc. que acabam por se tornarem endêmicas e controladas.

Portanto, inocular com duas doses cerca de 100 milhões de brasileiros será uma meta a ser atingida, com muita sorte, somente no início de 2022. Até lá, quantas mais vidas serão perdidas? Serão 300, 400 mil ou, como nos Estados Unidos, mais de meio milhão de pessoas que irão morrer? Ninguém nesse momento sabe responder. Mas as estatísticas são muito pessimistas.

Uma saída mais rápida e já experimentada em outros países seria o esforço pesado, do ponto de vista da saúde mental, do desastre econômico e de suas consequências futuras por muitos anos, de um lockdown rigoroso e bem fiscalizado de pelo menos 30 dias. Não é teoria ou especulação. Está acontecendo em outras nações.

Portugal, que chegou a ter a pior taxa de contágios e mortes do mundo em janeiro passado, passou dos 16 mil casos diários em registrados em 29/01 para pouco mais de 300 em 30 dias de confinamento rigoroso. As mortes diárias desceram de 303 para 34 no mesmo período. Quase 90% no número de óbitos em um mês. As internações em leitos de enfermaria e UTI´s tiveram quedas suficientes para tirar os hospitais da situação de colapso total para outra, onde diversas enfermarias Covid foram desativadas e os atendimentos a pacientes não-Covid com outras patologias pudessem voltar a serem atendidos.

E mesmo com a situação muito melhor e os hospitais voltando a uma situação de controle, o confinamento rigoroso ainda continuará até o final do mês de março. Para garantir que o caos de dezembro e janeiro não volte a acontecer. Os custos econômicos foram e serão altos. O PIB português caiu para -7,8%, o desemprego aumentou muito e as moratórias do governo e do sistema financeiro exigirão muito sacrifício dos portugueses para se recuperarem. Mas milhares de vidas foram e ainda serão salvas. E muito embora, não se possam medir perdas humanas em comparação de números, Não estamos falando de centenas de milhares como no Brasil. Mas de menos 15 ou 20 mil óbitos.

Esse cuidado com seus cidadãos com certeza explica o fato de Portugal, em pouco mais de quatro décadas ter passado da triste posição de ser um dos mais pobres da Europa, com altos índices de analfabetismo, mortalidade infantil, baixa industrialização, à condição de ser um dos melhores países para se viver, mesmo com ainda muito a ser feito, dentro do bloco europeu, em 2020. O Brasil, para alcançar o mesmo desempenho, talvez precise de séculos.  E não se trata aqui, como muitos falam, quando se diz isso, da tal “síndrome de vira-latas”, mas de tristes constatações estatísticas, matemáticas e sociológicas.  

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