O "garoto" cuja foto onde aparece afogado em uma
praia da Turquia e tem incomodado alguns conhecidos(as) aqui no Face Book, tem
nome: Se chama Aylan Kurdi. Nessa foto aqui ainda estava vivo, dormindo no colo
da mãe horas antes de tentar a travessia que tirou sua vida. A repetição de
imagens contendo uma carga violenta de tragédia pode sim, como bem lembrou
Sandro Alves, e outros que evocaram Susan Sontag, anestesiar a opinião das
massas ignorantes. Mas carregam também um tremendo poder de mobilização instantânea;
e por isso são captadas. O fotógrafo ético só divulga uma imagem dessas se achar que pude servir para motivar. Caso
contrário, se tornam troféus de imbecilidade e mau-caratismo nas mãos dos
Sebastiões Salgados da vida.
A morte do pequeno Aylan não foi em vão. Não justifica e nem
deveria ter acontecido, mas graças a
ele, cerca de 15 mil refugiados conseguiram entrar na Áustria e na
Alemanha nas últimas 24 horas e cerca de 180 mil outros vão receber asilo nos
próximos dias ou semanas. Todos eles seriam trancafiados em campos na Hungria ou
deportados de volta a Síria. Mas ainda existe mais de meio milhão de
refugiados, deslocados pelas guerras naquele país, no Iraque e no Afeganistão,
no Líbano e outros países às margens do Mediterrâneo esperando para fazer a
travessia para a Europa.
Sim, muitas outras mortes acontecerão. Aydan Kurdi foi uma
das quase três mil pessoas que morrerão ou desapareceram tentando a travessia
em condições precárias e desumanas, vítimas de traficantes de pessoas. Outras
tantas mil morrerão nos próximos meses, mas a morte e o drama desse garotinho
não permanecerá anônima como as demais.
Você não deve mesmo reproduzir a foto desse menino jogado na
areia. Mas pode e deve reproduzir uma das várias fotos dele ainda vivo e feliz,
apesar da tragédia em que viveu, que existem pela internet. Manter sua imagem e sua estória viva
significa mantermos a pressão social que ajuda na solução de parte do problema.