A inveja do falo...
Apesar de calejado com as maldades do mundo, ainda me
espanto com certas coisas. Não pelo nível de violência, crueldade ou sangue
frio. Sobre essas qualidades humanas, aprendi, desde muito, que as pessoas tem de sobra. Mas me
pergunto até agora o que leva uma mulher rica, com um filho, bom nível
cultural - e ainda jovem o bastante para recomeçar a vida com outro amor - a dar um
tiro na têmpora do marido dentro de casa, com o filho dormindo no quarto ao
lado. Não bastando isso, depois esperar algumas horas, em seguida, no banheiro da empregada, esquartejar com precisão
cirúrgica o cadáver, ensacar as partes dentro de malas e sair dirigindo por várias horas para jogar os restos do falecido em um matagal.
Alegou ciúmes de uma traição. Parece que o marido andava
frequentando bocetas extraconjugais. Destruiu três vidas, no mínimo, fora a dor
dos parentes dela e dele. Passará a enfrentar um calvário de delegacias, juizados e
certamente anos em uma penitenciária superlotada. Tudo isso vale um pinto?
Não conseguiu pensar - usando um pouco da frieza que teve
para desossar o cônjuge - que no final das contas, na posição que ela e ele se
encontravam na vida, a máxima do “lavou tá novo” caberia perfeitamente? Afinal
de contas o marido milionário, ex-dono de uma das maiores indústrias
alimentícias brasileiras, vendida dias antes por quase 2 bi à uma congênere americana, não
deixaria na miséria, nem ela, nem o filho.
Não há, nesse caso, nem o atenuante do desespero da favelada
solitária em seu barraco. Seviciada e espancada diariamente por um homem bêbado. Cinco filhos para criar sem apoio. Uma vida miserável sucumbindo à
loucura da pobreza e do desamparo. Inclusive e principalmente do Estado. Vendo nas saídas de seu homem
com as amantes, minguar mais ainda o pouco dinheiro disponível para a
subsistência e um restante de decência.
Certamente essa mulher miserável e anônima, após cometer o mesmo desatino, não teria as benesses de bons e caros advogados para alegar, em sua defesa
perante o júri as agruras de uma vida amarga, pleiteando a absolvição. Mas a assassina do milionário certamente o terá. Porém a sociedade não
quer mais ouvir falar de crime passional e deve estar certa. A tal
passionalidade livrou da cadeia muitos homens sexistas e violentos. Então não
haverão de ser as mulheres, ricas ou pobres, beneficiárias desse indulto.
Eu prefiro acreditar na loucura, na passionalidade. Tem que haver muita paixão em um ato desses. Um
pênis ou uma boceta, por mais gostosos, amados ou desejados que sejam, não
podem justificar tanta loucura. Afinal de contas, resumindo tudo ao denominador mais comum, lavou tá novo…
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