quarta-feira, 30 de maio de 2012





A inveja do falo...

Apesar de calejado com as maldades do mundo, ainda me espanto com certas coisas. Não pelo nível de violência, crueldade ou sangue frio. Sobre essas qualidades humanas,  aprendi, desde muito, que as pessoas tem de sobra. Mas me pergunto até agora o que leva uma mulher rica, com um filho, bom nível cultural - e ainda jovem o bastante para recomeçar a vida com outro amor - a dar um tiro na têmpora do marido dentro de casa, com o filho dormindo no quarto ao lado. Não bastando isso, depois esperar algumas horas, em seguida, no banheiro da empregada, esquartejar com precisão cirúrgica o cadáver, ensacar as partes dentro de malas e sair dirigindo por várias horas para jogar os restos do falecido em um matagal.

Alegou ciúmes de uma traição. Parece que o marido andava frequentando bocetas extraconjugais. Destruiu três vidas, no mínimo, fora a dor dos parentes dela e dele. Passará a enfrentar um calvário de delegacias, juizados e certamente anos em uma penitenciária superlotada. Tudo isso vale um pinto?

Não conseguiu pensar - usando um pouco da frieza que teve para desossar o cônjuge - que no final das contas, na posição que ela e ele se encontravam na vida, a máxima do “lavou tá novo” caberia perfeitamente? Afinal de contas o marido milionário, ex-dono de uma das maiores indústrias alimentícias brasileiras, vendida dias antes por quase 2 bi à uma congênere americana, não deixaria na miséria, nem ela, nem o filho.

Não há, nesse caso, nem o atenuante do desespero da favelada solitária em seu barraco. Seviciada e espancada diariamente por um homem bêbado. Cinco filhos para criar sem apoio.  Uma vida miserável sucumbindo à loucura da pobreza e do desamparo. Inclusive e principalmente do Estado. Vendo nas saídas de seu homem com as amantes, minguar mais ainda o pouco dinheiro disponível para a subsistência e um restante de decência. 

Certamente essa mulher miserável e anônima, após cometer o mesmo desatino, não teria as benesses de bons e caros advogados para alegar, em sua defesa perante o júri as agruras de uma vida amarga,  pleiteando a absolvição. Mas a assassina do milionário certamente o terá. Porém a sociedade não quer mais ouvir falar de crime passional e deve estar certa. A tal passionalidade livrou da cadeia muitos homens sexistas e violentos. Então não haverão de ser as mulheres, ricas ou pobres, beneficiárias desse indulto.

Eu prefiro acreditar na loucura, na passionalidade. Tem que haver muita paixão em um ato desses. Um pênis ou uma boceta, por mais gostosos, amados ou desejados que sejam, não podem justificar tanta loucura. Afinal de contas, resumindo tudo ao denominador mais comum, lavou tá novo…

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