A ressaca do carro zero..
A venda de automóveis zero quilômetro esta caindo, apesar da
teimosia do governo em achar que desenvolver a economia é somente conceder
isenção de impostos ao setor. As vendas
de julho desse ano foram recorde mas o desempenho em relação a 2010 foi menor.
E as previsões para os próximos meses não são otimistas. O segmento de carros
importado amarga uma queda de 41% em relação ao ano de 2011. Já se fala em
marcas pretendendo deixar o Brasil e desemprego no setor. O mercado de usados
vai de mal a pior. Segundo a Fenauto, federação que reúne as associações de
revenda de automóveis usados no país, cerca de 4500 agências fecharam as portas
entre março e julho desse ano. Se cada
uma delas empregava pelo menos cinco funcionários, quase 25 mil postos de
trabalho foram extintos no período.
A oferta de crédito e redução de IPI para automóveis novos,
fez despencar a venda de usados. São mais de 300 mil veículos nos pátios das
agências. O preço do usado também despencou. Com isso a nossa frota que é mais
velha que a media de outros países, deve ficar ainda mais defasada. Hoje que
compra um carro usado sabe que perderá muito na hora da troca. As revendas
autorizadas e agências de usado não querem nem saber de comprar veículos
seminovos. Em alguns casos, até mesmo para comprar um novo, dando de entrada o usado,
está ficando impossível. A revenda prefere perder o negócio a ficar com mais um
seminovo encalhado no estoque.
E isso vai se refletir em mais desemprego, não apenas nas
revendas de seminovos, mas também no setor de prestação de serviços de reparos,
indústria de peças de reposição, seguradoras e demais ramos de negócio ligados
ao automóvel usado. Hoje ninguém mais pensa na manutenção preventiva do veículo
usado. Se a perspectiva é praticamente dar o carro na hora da troca, a
manutenção só é feita em último caso. E assim mesmo aquela manutenção
meia-boca, trocando o mínimo necessário para o automóvel continuar rodando,
mesmo que em situação precária.
Esses carros vão para as ruas e estradas e acabam causando
acidentes. A poluição piora por conta dos motores desregulados e desgastados.
Quem leva uma batida de um carro desses pode se preparar para acionar o próprio
seguro, morrendo na franquia cara e perdendo o bônus de não utilização do
seguro. Porque com nossa justiça lenta e ineficaz, abrir um processo contra o
motorista causador do acidente é caso quase perdido, além da dor de cabeça e
despesas com advogado e custas processuais. Os familiares de motoristas,
passageiros e pedestres vitimados fatalmente em acidentes com veículos velhos,
geralmente sem seguro obrigatório ou seguro contra acidentes, também
encontraram dificuldades para receberem indenizações ou pensões.
E o governo federal fala agora em um plano para
desenvolvimento e ampliação da malha viária, na verdade uma privatização
branca, que se estenderá até 2018. Então serão mais carros velhos nas estradas,
já que uma parte razoável dos proprietários de veículos novos, mais seguros e
com a proteção securitária em dia, estão optando cada vez mais por viajar de
avião.
Já passou da hora de o governo criar um plano de renovação
da frota. Mais que isso: devem ser criadas leis que protejam os consumidores
contra a exploração especulativa das revendas e fábricas de automóveis, que
cobram valores exorbitantes por modelos que no exterior custam até um terço do
preço praticado no Brasil e ainda pagam um valor muito inferior ao de mercado
para receber um carro usado. Para os proprietários de automóveis também
deveriam haver leis mais rígidas quanto a manutenção preventiva e corretiva de
veículos usados, para diminuir ou evitar os acidentes causados por falhas
mecânicas.
O comercio de veículos usados hoje é uma terra sem lei. As
agências de automóveis dizem que fazem a manutenção para a venda, mas todos
sabemos que ela se resume apenas ao banho de loja, com uma cera na carroceria e
um pretinho nos pneus. Isso quando não disfarçam defeitos graves. Outras mais
sérias se recusam a comprar veículos com defeitos graves. E estes acabam sendo
vendidos pelos donos a outros particulares “no estado que se encontram” e os
novos proprietários, desconhecendo os defeitos graves ou mesmo deixando-os sem
reparo para evitar mais prejuízo na hora da venda se arriscam e arriscam a vida
de outros motoristas e pedestres.
O automóvel novo deveria ter a vida útil determinada por
lei. Até um certo período, como por exemplo, o da garantia de fábrica, que hoje
pode chegar até 5 anos em alguns modelos, ele poderia ser comercializado por
revendas ou particulares. Apos o final da vida útil, as fábricas deveriam ser
obrigadas a recebe-los de volta, por valores justos, para que fossem
reciclados. Isso diminuiria o número de acidentes graves, melhoraria a
qualidade do ar e acabaria com o furto de automóveis para desmanche, crime que
com o atual preço das peças e o baixo valor dos usados deve aumentar, pois
muitos motoristas inescrupulosos recorrem a desmanches clandestinos em busca de
peças mais baratas.
Enfim está a hora do governo olhar para o mercado
automobilístico de uma forma mais ampla e sustentável, pois redução de
impostos, no final das contas, prejudica a todos nós que os pagamos, pois receberemos
menos benefícios sociais que são mantidos por estes. O governo usa nosso
dinheiro para benesses a industrias que, por serem multinacionais, acabam
mandando a maior parte do lucro para fora do país, sem falar no alto grau de componentes importados que não geram empregos
diretos aqui e o absurdo dos preços praticados.
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