segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A ressaca do carro zero..

A venda de automóveis zero quilômetro esta caindo, apesar da teimosia do governo em achar que desenvolver a economia é somente conceder isenção de impostos ao setor.  As vendas de julho desse ano foram recorde mas o desempenho em relação a 2010 foi menor. E as previsões para os próximos meses não são otimistas. O segmento de carros importado amarga uma queda de 41% em relação ao ano de 2011. Já se fala em marcas pretendendo deixar o Brasil e desemprego no setor. O mercado de usados vai de mal a pior. Segundo a Fenauto, federação que reúne as associações de revenda de automóveis usados no país, cerca de 4500 agências fecharam as portas entre março e julho desse ano.  Se cada uma delas empregava pelo menos cinco funcionários, quase 25 mil postos de trabalho foram extintos no período.


 A oferta de crédito e redução de IPI para automóveis novos, fez despencar a venda de usados. São mais de 300 mil veículos nos pátios das agências. O preço do usado também despencou. Com isso a nossa frota que é mais velha que a media de outros países, deve ficar ainda mais defasada. Hoje que compra um carro usado sabe que perderá muito na hora da troca. As revendas autorizadas e agências de usado não querem nem saber de comprar veículos seminovos. Em alguns casos, até mesmo para comprar um novo, dando de entrada o usado, está ficando impossível. A revenda prefere perder o negócio a ficar com mais um seminovo encalhado no estoque.

 E isso vai se refletir em mais desemprego, não apenas nas revendas de seminovos, mas também no setor de prestação de serviços de reparos, indústria de peças de reposição, seguradoras e demais ramos de negócio ligados ao automóvel usado. Hoje ninguém mais pensa na manutenção preventiva do veículo usado. Se a perspectiva é praticamente dar o carro na hora da troca, a manutenção só é feita em último caso. E assim mesmo aquela manutenção meia-boca, trocando o mínimo necessário para o automóvel continuar rodando, mesmo que em situação precária.

 Esses carros vão para as ruas e estradas e acabam causando acidentes. A poluição piora por conta dos motores desregulados e desgastados. Quem leva uma batida de um carro desses pode se preparar para acionar o próprio seguro, morrendo na franquia cara e perdendo o bônus de não utilização do seguro. Porque com nossa justiça lenta e ineficaz, abrir um processo contra o motorista causador do acidente é caso quase perdido, além da dor de cabeça e despesas com advogado e custas processuais. Os familiares de motoristas, passageiros e pedestres vitimados fatalmente em acidentes com veículos velhos, geralmente sem seguro obrigatório ou seguro contra acidentes, também encontraram dificuldades para receberem indenizações ou pensões.

 E o governo federal fala agora em um plano para desenvolvimento e ampliação da malha viária, na verdade uma privatização branca, que se estenderá até 2018. Então serão mais carros velhos nas estradas, já que uma parte razoável dos proprietários de veículos novos, mais seguros e com a proteção securitária em dia, estão optando cada vez mais por viajar de avião.

Já passou da hora de o governo criar um plano de renovação da frota. Mais que isso: devem ser criadas leis que protejam os consumidores contra a exploração especulativa das revendas e fábricas de automóveis, que cobram valores exorbitantes por modelos que no exterior custam até um terço do preço praticado no Brasil e ainda pagam um valor muito inferior ao de mercado para receber um carro usado. Para os proprietários de automóveis também deveriam haver leis mais rígidas quanto a manutenção preventiva e corretiva de veículos usados, para diminuir ou evitar os acidentes causados por falhas mecânicas.

 O comercio de veículos usados hoje é uma terra sem lei. As agências de automóveis dizem que fazem a manutenção para a venda, mas todos sabemos que ela se resume apenas ao banho de loja, com uma cera na carroceria e um pretinho nos pneus. Isso quando não disfarçam defeitos graves. Outras mais sérias se recusam a comprar veículos com defeitos graves. E estes acabam sendo vendidos pelos donos a outros particulares “no estado que se encontram” e os novos proprietários, desconhecendo os defeitos graves ou mesmo deixando-os sem reparo para evitar mais prejuízo na hora da venda se arriscam e arriscam a vida de outros motoristas e pedestres.

 O automóvel novo deveria ter a vida útil determinada por lei. Até um certo período, como por exemplo, o da garantia de fábrica, que hoje pode chegar até 5 anos em alguns modelos, ele poderia ser comercializado por revendas ou particulares. Apos o final da vida útil, as fábricas deveriam ser obrigadas a recebe-los de volta, por valores justos, para que fossem reciclados. Isso diminuiria o número de acidentes graves, melhoraria a qualidade do ar e acabaria com o furto de automóveis para desmanche, crime que com o atual preço das peças e o baixo valor dos usados deve aumentar, pois muitos motoristas inescrupulosos recorrem a desmanches clandestinos em busca de peças mais baratas.

 Enfim está a hora do governo olhar para o mercado automobilístico de uma forma mais ampla e sustentável, pois redução de impostos, no final das contas, prejudica a todos nós que os pagamos, pois receberemos menos benefícios sociais que são mantidos por estes. O governo usa nosso dinheiro para benesses a industrias que, por serem multinacionais, acabam mandando a maior parte do lucro para fora do país, sem falar no alto grau de  componentes importados que não geram empregos diretos aqui e o absurdo dos preços praticados.

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