sexta-feira, 14 de março de 2014

Caixa preta...

Aviação comercial: a caixa preta que ninguém quer encontrar ou abrir...

"Há mais mistérios entre o céu e a terra do que supõe na nossa vã filosofia"diz um velho ditado. O mistério do voo MH370, onde um Boeing de uma boa companhia aérea desapareceu como fumaça nos céus da Malásia, entrando no sétimo dia em que as autoridades de vários países envolvidos nas buscas tem apenas desinformações. O incidente lembra o fatídico voo da Air France que, tendo sumido no meio do Atlântico, em meio a uma tempestade, levou vários dias até que se encontrassem os primeiros vestígios da queda. Durante o período de buscas, também houveram informações conflitantes e desencontradas entre a companhia aérea e as autoridades encarregadas das buscas. E os restos da aeronave e suas caixas pretas só foram encontradas mais de dois anos depois.

O que está acontecendo na aviação comercial?
Nesses tempos onde pessoas sãos rastreadas em tempo real com margens de precisão chegando a poucos metros e objetos menores e menos importantes que um avião possuem localizadores e sensores de identificação, como pode um avião de duzentas toneladas e mais de 50 metros de envergadura desaparecer no ar? Todo o espaço aéreo do planeta é vigiado interruptamente. Seja por radares terrestres civis e militares, seja por satélites ou aviões de reconhecimento e vigilância ou mesmo de espionagem. Tempos em que um drone, aeronave não tripulada, consegue atingir com um míssil um carro com supostos terroristas, misturado a outros veículos em uma rua de alguma cidadezinha em guerra no meio do nada.
Um piloto em um avião da força aérea do Vietnam usa um mapa digital para ajudar nas buscas pelo voo MH370 desaparecido no mar ao sul do país. A busca se estende agora ao vasto Oceano Índico depois que a Casa Branca  citou "novas informações" de que o avião poderia ter voado por horas depois de ter desaparecido a quase sete dias atrás. Fotografia: HOANG DINH NAM/AFP/GETTY IMAGES.

 Como essa tecnologia não acha um avião com centenas de dispositivos que podem ser rastreáveis? Falo de celulares, tablets e outros aparelhos levados pelos passageiros. E isso fora os da própria aeronave, que são projetados para fornecer a máxima precisão e resistência a falhas e acidentes? Os aviões modernos possuem sistemas automáticos de comunicação (ACARS) que informam dados de localização e funcionamento de partes independentes do avião. Os fabricantes das turbinas recebem dados em tempo real de todos os seus motores rodando por aí. Os fabricantes da fuselagem também recebem esses dados dia e noite, assim como a própria companhia aérea tem acesso a parte deles. Os radares militares também vigiam de perto as aeronaves civis. E isso tudo para não falarmos dos controles de voo civis que cuidam oficialmente do tráfego aéreo.
 
Ibrahim Mat Zin, um conhecido "bomoh" , termo malaio para feiticeiro ou xamã , segura dois cocos enquanto executa um ritual para ajudar nas buscas do avião desaparecido da Malaysia Airlines, o voo MH370, no aeroporto internacional de  Kuala Lumpur. Fotografia: DAMIR SAGOLL/REUTERS. 

Enquanto os familiares dos mais de duzentos passageiros e tripulantes sofrem com a falta de informação oficial e a desinformação especulativa da mídia, interesses escusos, sejam estes políticos ou comerciais, parecem dar as cartas por baixo da mesa. Estados Unidos, China, Índia, Vietnam e outros países sabem mais da rota e provável paradeiro do voo MH370 do que admitem oficialmente. Mas mantêm sigilo. Os fabricantes de aeronaves e componentes também. Um deles chegou a admitir extraoficialmente que eles detêm informações que não são repassadas a Malaysian Airlines porque eles não pagam por esse tipo de serviço. Tudo é um jogo comercial e político. E no meio dessa guerra estamos nós, os passageiros. O sofrimento das famílias dos desaparecidos não sensibiliza ninguém quando se tratam de bilhões de dólares em negócios.

Na verdade, esse tipo de acidente ou incidente e o terror que ele causa às pessoas e empresas, parecem servir de propaganda lúgubre e nefasta para alavancar novos contratos de segurança de voo e prestação de serviços de informação e inteligência empresarial no setor. Quem acompanha de perto o desenrolar dos fatos desse e de outros acidentes aéreos percebe claramente a guerra de informação. Ou melhor: de desinformação, mal entendidos, comunicados oficiais e extraoficiais. Se existem formas seguras e eficazes de proteção e rastreamento de aeronaves e seus passageiros, porque as empresas aéreas de todo o mundo não são obrigadas por lei a pagarem por eles? Se a legislação internacional do setor é frouxa e permite brechas, os donos de companhias aéreas se aproveitam disso para economizar bilhões de dólares ao ano. Mas na propaganda, vendem o transporte aéreo como o mais seguro, confortável e maravilhoso do mundo.

Um parente de um passageiro a bordo do voo MH370 da Malaysia Airlines chorando ao falar ao telefone no Aeroporto Internacional de Pequim no sábado seguinte ao desaparecimento da aeronave. Fotografia: KIM KYUNG-HOON/REUTERS


No fim das contas, para essas empresas, é mais barato pagar indenizações e arcar com outros custos envolvidos apenas quando acontece um acidente. E como o índice histórico de fatalidades é baixo, sendo os aviões um dos meios de transportes mais seguro, esse modelo de negócio é tentador, porque na fatalidade de uma queda, os passageiros mortos não vão reclamar e os parentes vivos podem ser confortados, calados ou comprados com pouca grana. Afinal, a vida continua e a maioria dos passageiros não vai abandonar o avião como meio de transporte. Cada vez que acidentes como esse se repetem, fica faltando encontrar uma das caixas pretas do sistema. 

Março/2014

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