sexta-feira, 31 de julho de 2020

O novo normal I




A reabertura e os velhos hábitos

Em Brasília, onde moro, quase todas as atividades econômicas de prestação de serviços estão reabertas. Se era o caso de reabrir tão cedo ou não, não será a pauta desse artigo. Particularmente não concordo. Cedo demais em virtude das altas taxas de pessoas infectadas ou se infectando, transmissão alta e mortes ainda em ascensão. Hospitais quase ou já saturados. Falta de testagem ampla e acessível.

Mas já que permitiram reabrir, vou tomar como exemplo os restaurantes. Foram emitidas normas pelas autoridades de saúde. Provavelmente uma boa parte desses estabelecimentos está seguindo. Mas esqueceram um fator crucial: o comportamento dos frequentadores. Não o comportamento determinado pela Vigilância Sanitária, mas o comportamento social que, seja pela falta de informação ou mero hábito, coloca em risco torna menos efetivas as regras estabelecidas.


A realidade é que as pessoas ainda não tiveram tempo ou discernimento de mudarem seus hábitos. Hábitos e costumes são comportamentos sociais. Alguns deles aprendidos e internalizados desde a infância. Sejam bons ou ruins. E é muito difícil mudar comportamentos. Vejamos então o exemplo que se segue.

Entro em um restaurante, onde fazia minhas refeições habitualmente e, após a reabertura parcial, para comprar a comida no balcão elevar para casa, ou pedir por um entregador, não me sento à mesa. Como disse, apesar de poder fazer isso agora, por conta de um decreto, ainda acho temerário. Não por achar que esse estabelecimento não está seguindo as recomendações, mas por convicção que não está certo. As razões já citei mais acima.
Pois bem. Enquanto aguardo minha comida ser embalada, vejo em uma mesa um casal. Parecem ser colegas de trabalho. Estão almoçando e conversando. O distanciamento das mesas está correto. Retiraram mais da metade. O álcool em gel e as toalhas descartáveis estão presentes. Os garçons, devidamente paramentados. O ambiente não é fechado e há boa circulação de ar. As pessoas entram de máscara, usam o desinfetante nas mãos e sentam-se.

No momento em que a comida chega à mesa, abaixam suas máscaras. Obvio. Aí começa o erro e o risco do comportamento vigente. Provavelmente por força do hábito, sentam em uma mesa de quatro lugares, um de frente para o outro. Fico imaginando, em um cenário bem factível, que entre as garfadas de comida, risos e a conversa em tom ligeiramente alto, os vírus (de todos os tipos, sendo lançados nos rostos, pratos e superfícies um do outro).
Vou mais além e imagino que, sendo colegas de trabalho, estão usando máscaras e desinfetante para as mãos em seu local de trabalho, onde algumas medidas de prevenção devem ter sido tomadas. Mas quem pode garantir, que um dos dois, ou mesmo ambos, não sejam infectados assintomáticos? A garantia de ser seu colega próximo de trabalho, estar aparentando boa saúde não garante nada.

Pensando no pior, como forma de ser precavido, fico imaginando que um dos dois esteja contaminado. Não cheguei a ver os dois saindo do estabelecimento. Minha marmita para viajem saiu antes. Mas provavelmente terminaram seu almoço, a conversa a meio metro de distancia, pagaram a conta, limparam suas mãos mais uma vez, colocaram as máscaras e voltaram para a empresa. Provavelmente achando que tomaram todos os cuidados e talvez até elogiando o estabelecimento pelo cumprimento das normas.

Se o pior acontecer, daqui a uns dias os dois ou um deles começar a sentir os sintomas da doença e ficara imaginando como, se tomaram as devidas precauções no ambiente de trabalho, em casa e na rua, puderam ser contaminados. Talvez até desconfiem e se arrependam de terem ido tão cedo a um lugar público. E esse caso, se repetido em muitas outras pessoas, levará certamente a um novo fechamento de locais como esse restaurante.
Na minha preocupação, cheguei a comentar o fato com a dona do restaurante. Notei que para ela, meu comentário fez sentido. Talvez tenha faltado uma medida simples. Que tem sido aconselhada pelas autoridades de saúde: o distanciamento. Fico imaginando que se o casal tivesse apenas se sentado lado a lado, na mesma mesa e evitado conversar durante a refeição, os riscos de uma contaminação entre os dois seria bastante reduzido, já que não estariam sem as máscaras, um de frete para o outro.

Talvez tenha faltado um pouco mais de orientação na reabertura, como por exemplo, a determinação que em bares e restaurantes os garçons determinassem que os clientes não ocupassem lugares a mesma mesa, sentando-se de frente uns dos outros. Talvez falte nas pessoas cair a ficha que o “novo normal”, deve ser internalizado com atenção a todo pequeno detalhe que faça a diferença. Hábitos, mesmo que arraigados em nossa personalidade, podem e devem ser mudados quando necessário ou conveniente. Mas é preciso sair do quadrado de se achar que tudo voltará a ser como antes.


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