Segunda-feira, seis da tarde. Saio de carro para buscar
minha mulher no trabalho. Quase sempre
minha filha faz isso. Mas ela estava enrolada na autorizada, esperando o carro
sair da revisão. Primeira revisão dos 2500 Km do seu Chery QQ. Carrinho
simpático e super equipado da montadora chinesa que está se instalando no
Brasil.
Estava dirigindo pela Via L2, movimentada avenida de
Brasília. Cheia de sinais, pardais e faixas de pedestre sem semáforo. Aqui em
Brasília, como manda a lei e a cidadania, é obrigatório dar preferencia ao
pedestre na faixa. A regra é: pedestre para no meio fio, na faixa, estende o
braço e espera os carros pararem para atravessar.
Nessa situação tem dois tipos de estúpidos: os motoristas,
felizmente muito poucos, provavelmente vindos de outros estados e sem educação,
que não param. E pedestres que acham que podem atravessar direto, sem dar o
sinal com o braço. Confiam tanto no respeito a faixa, que acham que o motorista
tem obrigação de parar instantaneamente.
Mas o sinal de braço e a luz amarela do semáforo existem
para adequar a velocidade do fluxo de tráfego ao comando de pare do sinal
vermelho. Não existe carro ou motorista que possa brecar instantaneamente. É um
tempo de segurança para motoristas e transeuntes. Mas a moçoila, apressada para
provavelmente chegar a Universidade de Brasília, que fica próxima a via L2, não
teve a educação ou paciência de sinalizar e esperar.
Como muitos outros pedestres estúpidos, do jeito que vinha
na calçada, adentrou a faixa sem parar. Eu já estava bem perto, cerca de 15
metros da faixa e a 60Km/h, velocidade máxima da via. Para não atropelar a
criatura, ou cavalgadura, carreguei nos travões, como dizem os portugueses, ou
seja pisei pesado no freio.
Meu antigo, não velho, Renault Megane Scenic 2001 parou
lindamente. Em cima da linha branca contínua que antecede a faixa de pedestre.
Sem cantar pneus ou desviar a trajetória. Ato contínuo, como sempre faço, olhei
o retrovisor. Cinquenta metros atrás vinha um Fiat Punto. Depois de alguns
décimos de segundo percebi que, apesar da distância segura, ele não ia parar.
Ele, o carro e ela a motorista. Para tranquilizar meu filho,
falei meio brincando: segura peão. E foi só esperar a porrada. Felizmente, a
motorista, médica novinha e atrasada para o plantão, como me explicou depois
aos soluços e cara de vergonha, ainda conseguiu desviar um pouco para a
esquerda e só perdeu o farol, pisca e todo o para-lama direito que, no Punto é
de fibra ou plástico e se desintegrou.
O velho Scenic teve a lanterna esquerda quebrada, a mala e a
lateral ligeiramente amassadas e o para-choque arranhado. O Zezinho, já
acostumado a essas colisões, nem se assustou. Depois de tranquilizar a doutora,
que estava querendo se debulhar em lágrimas, pelo susto e nervosismo da
primeira batida mais grave, perguntei a ela se o Punto tinha ABS. Ela fez que
não com a cabeça e depois de alguns instantes falou: na hora de comprar a gente
acha caro, pois tem o ar, a direção, o som e aí a gente não quer colocar mais
nada no carro.
Brasileiro é assim. Quer ter carro zero. Pode ser a bosta de
um carro mil popular, mas tem que ser zero. Financiado em trocentos mil meses
com juros de agiotagem. Tem que ter som, para incomodar todo mundo com funk ou
sertanejo no trânsito. Tem que ter rodas de liga leve e outros penduricalhos.
Tudo para dar um aparência de coisa de gente rica.
Itens de segurança como airbag, freios ABS, controle de
tração nem pensar. Não aparecem. Não chamam atenção e custam caro. Seguro
contra acidentes só fazem se a financeira exigir. Aprender a dirigir bem e de
forma preventiva parece impossível a alguns e algumas. Aí na hora da emergência
batem feio, atropelam, tiram vidas e muitas vezes não pagam o prejuízo que
causaram.
Felizmente a minha doutorinha tinha seguro. Estou aguardando
para enfrentar a burocracia da vistoria, espera de peças e conserto do carro. E
que sempre fica ruim, detalhista, perfeccionista e amante dos meus carros
antigos como sou, acabo brigando muito com a oficina, mandando refazer o
trabalho quantas vezes sejam necessárias para o reparo ficar perfeito.
Como disse no início, adoro carro antigo, não velho ou
estragado. Entre comprar uma porcaria um-ponto-zero, pagando o valor de um
carro bem mais moderno e seguro no exterior, prefiro os antigos, que em seus
dias de glória, eram modelos top de linha, geralmente importados. Acho que fico
mais bem servido e seguro.
O meu bom e antigo Renault Scenic, está tinindo, apesar dos
220.000 Km rodados e 11 anos de uso. Lataria perfeita, sem nenhum sinal de
ferrugem ou desgaste. Pintura original, estofamento e interior sem um rasgado
ou desbotado, nenhum barulho de carroceria, como aqueles que os milzinhos fazem
já aos primeiros 2 mil quilômetros de uso.
Dos itens de série, freios ABS de 4 canais, airbags de
passageiro e motorista, controle de tração, pneus 15 polegadas 195, motor 2.0,
16 válvulas e 135 CV. Apesar da tropa debaixo do capô, faz tranquilamente 11
Km/litro na cidade e cerca de 12,5 na estrada. E anda mais que notícia ruim.
Por ser uma carro muito alto e grande, estilo caminhonete, perua ou
sei-lá-o-que, parece, ao motorista que
não andou nele, um carro bobo de estabilidade e ruim de curvas.
Ledo engano. O danado anda na frente de qualquer Corola ou
Honda Civic, queridinhos do público brasileiro, é agarrado no chão, mesmo em
curvas feitas no limite de aderência, com comportamento neutro (não sai de
frente ou traseira) e freia com perfeição, ao contrário do aclamado Punto da
Fiat de nossa médica, tido como a tecnologia de ponta da indústria européia. Se
fosse ela, a médica, a estar na minha frente na faixa de pedestres,
provavelmente tinha atropelado a moça afoita
Aproveitando que o carro do tiozão vai para a oficina, fiz
hoje a manutenção preventiva de mecânica. Sempre faço isso nos meus carros
antigos (não velhos!).
Troquei balanças de suspensão, pivôs, terminais e braços de
direção, todas as buchas da suspensão, pastilhas de freio, pneus novos e
caprichei no alinhamento. Item aliás pouco conhecido da maioria dos motoristas.
Não falo daquele alinhamento chulé de 50 pratas e que muitas vezes te dão de
brinde quando você troca os pneus.
Alinhamento de qualidade não custa 50 contos. Custa 500
pratas e corrige cambagem, angulo de cáster, empenos de colunas e
desalinhamento de eixos de roda. É trabalho para um dia inteiro. Mas você ganha
estabilidade, segurança em manobras de emergência, menor consumo de combustível
e maior durabilidade dos pneus. O resultado é que deixei na oficina cerca de R$
3 mil reais em um carro que, satanizado pelo mercado de motoristas ignorantes
que prezam o estatus do novo da moda, não vale mais que R$ 10 mil reais na
troca por um zero popular
Alguns vão dizer: burrice, pois você gastou quase 30% do
valor do carro em uma manutenção. Gastei sim e com gosto. Agora começou aqui em
Brasília a temporada de chuvas. O asfalto, por conta da longa estiagem e
acúmulo de restos de borracha e óleo fica um sabão. Meus pneus estavam com
metade da vida útil. Outra coisa aprendida nos meus 32 anos de carteira: todo
pneu tem marcadores, chamados de indicadores de desgaste na banda de rodagem.
Quando eles aparecem igualados ao sulcos do pneu, indicam que a hora da troca
chegou.
Para a maioria dos motoristas isso parece absurdo, afinal os
sulcos ainda estão com mais de meio centímetro de profundidade e o pneu parece
novo. Mas não está. A borracha em camada menor fica mais dura. O carro bate
mais nas irregularidades do piso, perde aderência e toda a suspensão sofre, se
desgastando prematuramente. A suposta economia deixando a troca para quando o
pneu já está quase careca, é perdida ou em acidentes evitáveis ou em uma
manutenção cara na suspensão.
Fora a dor de cabeça do pneu furado na hora errada ou local
perigoso. Tem muitos anos que não troco pneu por conta de furo. Desde que
passei a respeitar os indicadores de desgaste. E se muitos não sabem, um pneu
tem uma garantia longa. Se você respeitar as normas do fabricante, como fazer o
alinhamento correto na hora da troca e as revisões gratuitas de suspensão
subsequentes, pode ganhar um pneu novo, caso o seu rasgue acidentalmente em um
buraco ou subida de meio-fio. Já aconteceu comigo com um pneu com mais de 30
mil quilômetros rodados e 2 anos de uso. Ganhei outro de graça do fabricante.
E para fechar esse texto, volto ao assunto carro novo. No
início falei que minha filha estava na concessionária fazendo a revisão do
carro novo. Carro chinês, desses que
está todo mundo metendo o pau, graças as matérias pagas dos fabricantes
nacionais, nas revistas especializadas. Pois o tal QQ da Chery, apesar de uns
pecadilhos da montadora, é um grande carro. Falando nos tais itens de
segurança, é o único popular que, sendo o segundo mais barato do Brasil ( só
perde para o Uno Mille pelado), vem com airbags duplos e freios ABS como itens
de série. Fora isso, um bom motor 1,1 litro, que chega a fazer 22 Km por litro
de gasolina, direção hidráulica, ar condicionado, espelhos elétricos, radio-cd
com entrada para cartão e mp3, cintos de 3 pontos em todos os lugares, um ótimo
acabamento interno, sem partes de metal da carroceria aparecendo, inclusive no
porta-malas, abertura interna do porta-malas e do tanque de combustível, vidros
verdes, painel de instrumentos completo e digital e mais outras cositas.
É tão completo que não existe lista de acessórios ou
equipamentos opcionais para venda. E tudo isso por exatos R$ 22.900,00. Um automóvel popular de uma das montadoras
tradicionais brasileiras, as donas do mercado a décadas, com esse nível de equipamentos e acessórios, não sai por
menos de R$ 35 mil reais, se não chegarem
aos 40 mil. Mas não são carros chineses, alguns vão dizer. Que me
importa?
O QQ da filhota veio com 3 anos de garantia total sem limite
de quilometragem. Ou seja, se for ruim e tiver que trocar muitas peças, quem
vai se ferrar é a Chery. E olha que a assistência autorizada está querendo
mostrar serviço. Vejo muita gente reclamando das revisões obrigatórias de
outras marcas, onde não são trocadas peças com defeito, mesmo tendo sido
constatado o problema pelo dono.
Nessa primeira revisão, o técnico da autorizada me informou
que havia trocado um amortecedor traseiro, que eu não pedi pois não notei nada
de errado com o carro, porque o mecânico suspeitou de um pequeno barulho.
Parece que os caras querem fazer a fama por aqui.
De minha parte, continuo com meu gosto pelos antigos. Ando
em carrões seguros, confortáveis, potentes e com todos os luxos e mimos a que
tenho direito, pagando muitas vezes 20% do valor do mesmo modelo zero
quilômetro. Ao invés de gastar 100 mil em um modelo zero quilometro, prefiro
compra-lo 6 ou 7 anos depois pagando cinco vezes menos. E os carros top de
linha, mesmo usados, tendem a ter menos problemas pois são usados materiais
mais caros. Geralmente ainda estão a frente da maioria dos populares em
quesitos como segurança e tecnologia, pagam menos IPVA e seguro, são menos
visados pelos ladrões e eu posso compra-los a vista, não deixando o valor de 2
ou 3 carros para as financeiras. Mas eu sou excêntrico…
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