quarta-feira, 15 de maio de 2013


Carros novos, carros antigos e a estupidez dos brasileiros...

Segunda-feira, seis da tarde. Saio de carro para buscar minha mulher no trabalho.  Quase sempre minha filha faz isso. Mas ela estava enrolada na autorizada, esperando o carro sair da revisão. Primeira revisão dos 2500 Km do seu Chery QQ. Carrinho simpático e super equipado da montadora chinesa que está se instalando no Brasil.

Estava dirigindo pela Via L2, movimentada avenida de Brasília. Cheia de sinais, pardais e faixas de pedestre sem semáforo. Aqui em Brasília, como manda a lei e a cidadania, é obrigatório dar preferencia ao pedestre na faixa. A regra é: pedestre para no meio fio, na faixa, estende o braço e espera os carros pararem para atravessar.

Nessa situação tem dois tipos de estúpidos: os motoristas, felizmente muito poucos, provavelmente vindos de outros estados e sem educação, que não param. E pedestres que acham que podem atravessar direto, sem dar o sinal com o braço. Confiam tanto no respeito a faixa, que acham que o motorista tem obrigação de parar instantaneamente.


Mas o sinal de braço e a luz amarela do semáforo existem para adequar a velocidade do fluxo de tráfego ao comando de pare do sinal vermelho. Não existe carro ou motorista que possa brecar instantaneamente. É um tempo de segurança para motoristas e transeuntes. Mas a moçoila, apressada para provavelmente chegar a Universidade de Brasília, que fica próxima a via L2, não teve a educação ou paciência de sinalizar e esperar.

Como muitos outros pedestres estúpidos, do jeito que vinha na calçada, adentrou a faixa sem parar. Eu já estava bem perto, cerca de 15 metros da faixa e a 60Km/h, velocidade máxima da via. Para não atropelar a criatura, ou cavalgadura, carreguei nos travões, como dizem os portugueses, ou seja pisei pesado no freio.

Meu antigo, não velho, Renault Megane Scenic 2001 parou lindamente. Em cima da linha branca contínua que antecede a faixa de pedestre. Sem cantar pneus ou desviar a trajetória. Ato contínuo, como sempre faço, olhei o retrovisor. Cinquenta metros atrás vinha um Fiat Punto. Depois de alguns décimos de segundo percebi que, apesar da distância segura, ele não ia parar.

Ele, o carro e ela a motorista. Para tranquilizar meu filho, falei meio brincando: segura peão. E foi só esperar a porrada. Felizmente, a motorista, médica novinha e atrasada para o plantão, como me explicou depois aos soluços e cara de vergonha, ainda conseguiu desviar um pouco para a esquerda e só perdeu o farol, pisca e todo o para-lama direito que, no Punto é de fibra ou plástico e se desintegrou.

O velho Scenic teve a lanterna esquerda quebrada, a mala e a lateral ligeiramente amassadas e o para-choque arranhado. O Zezinho, já acostumado a essas colisões, nem se assustou. Depois de tranquilizar a doutora, que estava querendo se debulhar em lágrimas, pelo susto e nervosismo da primeira batida mais grave, perguntei a ela se o Punto tinha ABS. Ela fez que não com a cabeça e depois de alguns instantes falou: na hora de comprar a gente acha caro, pois tem o ar, a direção, o som e aí a gente não quer colocar mais nada no carro.

Brasileiro é assim. Quer ter carro zero. Pode ser a bosta de um carro mil popular, mas tem que ser zero. Financiado em trocentos mil meses com juros de agiotagem. Tem que ter som, para incomodar todo mundo com funk ou sertanejo no trânsito. Tem que ter rodas de liga leve e outros penduricalhos. Tudo para dar um aparência de coisa de gente rica.

Itens de segurança como airbag, freios ABS, controle de tração nem pensar. Não aparecem. Não chamam atenção e custam caro. Seguro contra acidentes só fazem se a financeira exigir. Aprender a dirigir bem e de forma preventiva parece impossível a alguns e algumas. Aí na hora da emergência batem feio, atropelam, tiram vidas e muitas vezes não pagam o prejuízo que causaram.

Felizmente a minha doutorinha tinha seguro. Estou aguardando para enfrentar a burocracia da vistoria, espera de peças e conserto do carro. E que sempre fica ruim, detalhista, perfeccionista e amante dos meus carros antigos como sou, acabo brigando muito com a oficina, mandando refazer o trabalho quantas vezes sejam necessárias para o reparo ficar perfeito.

Como disse no início, adoro carro antigo, não velho ou estragado. Entre comprar uma porcaria um-ponto-zero, pagando o valor de um carro bem mais moderno e seguro no exterior, prefiro os antigos, que em seus dias de glória, eram modelos top de linha, geralmente importados. Acho que fico mais bem servido e seguro.

O meu bom e antigo Renault Scenic, está tinindo, apesar dos 220.000 Km rodados e 11 anos de uso. Lataria perfeita, sem nenhum sinal de ferrugem ou desgaste. Pintura original, estofamento e interior sem um rasgado ou desbotado, nenhum barulho de carroceria, como aqueles que os milzinhos fazem já aos primeiros 2 mil quilômetros de uso.

Dos itens de série, freios ABS de 4 canais, airbags de passageiro e motorista, controle de tração, pneus 15 polegadas 195, motor 2.0, 16 válvulas e 135 CV. Apesar da tropa debaixo do capô, faz tranquilamente 11 Km/litro na cidade e cerca de 12,5 na estrada. E anda mais que notícia ruim. Por ser uma carro muito alto e grande, estilo caminhonete, perua ou sei-lá-o-que, parece, ao motorista que  não andou nele, um carro bobo de estabilidade e ruim de curvas.

Ledo engano. O danado anda na frente de qualquer Corola ou Honda Civic, queridinhos do público brasileiro, é agarrado no chão, mesmo em curvas feitas no limite de aderência, com comportamento neutro (não sai de frente ou traseira) e freia com perfeição, ao contrário do aclamado Punto da Fiat de nossa médica, tido como a tecnologia de ponta da indústria européia. Se fosse ela, a médica, a estar na minha frente na faixa de pedestres, provavelmente tinha atropelado a moça afoita

Aproveitando que o carro do tiozão vai para a oficina, fiz hoje a manutenção preventiva de mecânica. Sempre faço isso nos meus carros antigos (não velhos!).

Troquei balanças de suspensão, pivôs, terminais e braços de direção, todas as buchas da suspensão, pastilhas de freio, pneus novos e caprichei no alinhamento. Item aliás pouco conhecido da maioria dos motoristas. Não falo daquele alinhamento chulé de 50 pratas e que muitas vezes te dão de brinde quando você troca os pneus.

Alinhamento de qualidade não custa 50 contos. Custa 500 pratas e corrige cambagem, angulo de cáster, empenos de colunas e desalinhamento de eixos de roda. É trabalho para um dia inteiro. Mas você ganha estabilidade, segurança em manobras de emergência, menor consumo de combustível e maior durabilidade dos pneus. O resultado é que deixei na oficina cerca de R$ 3 mil reais em um carro que, satanizado pelo mercado de motoristas ignorantes que prezam o estatus do novo da moda, não vale mais que R$ 10 mil reais na troca por um zero popular

Alguns vão dizer: burrice, pois você gastou quase 30% do valor do carro em uma manutenção. Gastei sim e com gosto. Agora começou aqui em Brasília a temporada de chuvas. O asfalto, por conta da longa estiagem e acúmulo de restos de borracha e óleo fica um sabão. Meus pneus estavam com metade da vida útil. Outra coisa aprendida nos meus 32 anos de carteira: todo pneu tem marcadores, chamados de indicadores de desgaste na banda de rodagem. Quando eles aparecem igualados ao sulcos do pneu, indicam que a hora da troca chegou.

Para a maioria dos motoristas isso parece absurdo, afinal os sulcos ainda estão com mais de meio centímetro de profundidade e o pneu parece novo. Mas não está. A borracha em camada menor fica mais dura. O carro bate mais nas irregularidades do piso, perde aderência e toda a suspensão sofre, se desgastando prematuramente. A suposta economia deixando a troca para quando o pneu já está quase careca, é perdida ou em acidentes evitáveis ou em uma manutenção cara na suspensão.

Fora a dor de cabeça do pneu furado na hora errada ou local perigoso. Tem muitos anos que não troco pneu por conta de furo. Desde que passei a respeitar os indicadores de desgaste. E se muitos não sabem, um pneu tem uma garantia longa. Se você respeitar as normas do fabricante, como fazer o alinhamento correto na hora da troca e as revisões gratuitas de suspensão subsequentes, pode ganhar um pneu novo, caso o seu rasgue acidentalmente em um buraco ou subida de meio-fio. Já aconteceu comigo com um pneu com mais de 30 mil quilômetros rodados e 2 anos de uso. Ganhei outro de graça do fabricante.

E para fechar esse texto, volto ao assunto carro novo. No início falei que minha filha estava na concessionária fazendo a revisão do carro novo.   Carro chinês, desses que está todo mundo metendo o pau, graças as matérias pagas dos fabricantes nacionais, nas revistas especializadas. Pois o tal QQ da Chery, apesar de uns pecadilhos da montadora, é um grande carro. Falando nos tais itens de segurança, é o único popular que, sendo o segundo mais barato do Brasil ( só perde para o Uno Mille pelado), vem com airbags duplos e freios ABS como itens de série. Fora isso, um bom motor 1,1 litro, que chega a fazer 22 Km por litro de gasolina, direção hidráulica, ar condicionado, espelhos elétricos, radio-cd com entrada para cartão e mp3, cintos de 3 pontos em todos os lugares, um ótimo acabamento interno, sem partes de metal da carroceria aparecendo, inclusive no porta-malas, abertura interna do porta-malas e do tanque de combustível, vidros verdes, painel de instrumentos completo e digital e mais outras cositas.

É tão completo que não existe lista de acessórios ou equipamentos opcionais para venda. E tudo isso por exatos R$ 22.900,00.  Um automóvel popular de uma das montadoras tradicionais brasileiras, as donas do mercado a décadas, com esse nível  de equipamentos e acessórios, não sai por menos de R$ 35 mil reais, se não chegarem  aos 40 mil. Mas não são carros chineses, alguns vão dizer. Que me importa?

O QQ da filhota veio com 3 anos de garantia total sem limite de quilometragem. Ou seja, se for ruim e tiver que trocar muitas peças, quem vai se ferrar é a Chery. E olha que a assistência autorizada está querendo mostrar serviço. Vejo muita gente reclamando das revisões obrigatórias de outras marcas, onde não são trocadas peças com defeito, mesmo tendo sido constatado o problema pelo dono.

Nessa primeira revisão, o técnico da autorizada me informou que havia trocado um amortecedor traseiro, que eu não pedi pois não notei nada de errado com o carro, porque o mecânico suspeitou de um pequeno barulho. Parece que os caras querem fazer a fama por aqui.


De minha parte, continuo com meu gosto pelos antigos. Ando em carrões seguros, confortáveis, potentes e com todos os luxos e mimos a que tenho direito, pagando muitas vezes 20% do valor do mesmo modelo zero quilômetro. Ao invés de gastar 100 mil em um modelo zero quilometro, prefiro compra-lo 6 ou 7 anos depois pagando cinco vezes menos. E os carros top de linha, mesmo usados, tendem a ter menos problemas pois são usados materiais mais caros. Geralmente ainda estão a frente da maioria dos populares em quesitos como segurança e tecnologia, pagam menos IPVA e seguro, são menos visados pelos ladrões e eu posso compra-los a vista, não deixando o valor de 2 ou 3 carros para as financeiras. Mas eu sou excêntrico…

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