Assange e o mensalão...
Assange pediu que os Estados Unidos da América desistisse da
caça as bruxas. Sábio conselho. Obama deveria escutar e acatar. Afinal eles não
foram nem nunca serão os paladinos da justiça e documentos secretos sempre
vazarão. Assange deveria também, caso consiga sair do embroglio em que se
meteu, abrir um resort em Quito e sossegar o facho. Afinal sempre existirão documentos
secretos e gente interessada em repassa-los. Mas no final das contas, tanto
Assange quanto os Estados Unidos devem deixar de serem tolos o bastante para
acreditar que resolverão todos os problemas do mundo invadindo republiquetas o
Oriente Médio ou vasando documentos secretíssimos e importantes, que afinal de
contas, nos dois casos, o resto do mundo não está nem um pouco interessado em
assistir, passados os 15 minutos de fama da mídia.
Essa lição deveria ser também escutada aqui no Brasil. Os julgamentos
de mensalões deveriam acabar de vez. O tempo e os recursos dos contribuintes
que os nobres ministros da suprema corte gastam, deveriam ser empregados em
causas mais producentes para o país. Afinal, enquanto os parlamentares assistem
de graça o coito da assessora, que em
breve estará cobrando, dentro dos seus também 15 minutos de exposição, uma boa
grana para mostras suas entranhas arreganhadas nas revistas para senhores, mais
mensalões se engendram e outros se fortalecem. É uma luta sem fim. E sempre
vazarão, como vazou alguns anos depois a fornicada mal dada da loira e do
funcionariozinho do congresso.
Afinal qual brasileiro se importa mesmo com o que se passa
no público ou privado das casas de seus representantes eleitos? Nessa terra
onde todas as bocetas, tomadas nos vários significados da palavra, não estão a
venda por um punhado de fama e dinheiro. No Brasil todo mundo quer ser famoso e
rico. Trabalhando? Estudando? Pesquisando? Não. Afinal como diz o velho ditado
vamos ao jogo que o trabalho é roubo. Devemos assumir nossa vocação de paraíso
ufanista, malemolente e hedonista, paraíso tropical do sol e das bananas. A
corrupção por aqui, vai continuar vazando assim como os papeis secretos do Sr.
Assange.
Enquanto se prepara a pantomima da condenação de alguns
bodes expiatórios de um mensalão antigo, outros são cozinhados na casa
parlamentar e no seio das instituições da pátria amada. A máquina exige isso
para continuar funcionando na surdina. O ministro relator, o procurador com
cara de comediante gordo dizem que o julgamento será um marco na história da
corrupção. Fico imaginando qual, com medo de arriscar um palpite. Pedir a
condenação de um diretorzinho de banco estatal pelo desvio de setenta e poucos
milhões é um acinte ao cidadão esclarecido. E os demais cumplices? Ou ele teria
agido sozinho? Quem redigiu relatórios, deu pareceres, tramitou papeladas,
agendou reuniões, digitou documentos e mesmo, acima dele autorizou os repasses
milionários? Onde estão?
Exatamente nos mesmos lugares onde estavam. Provavelmente,
não apenas na casa bancária, mas em todas as outras instituições atualmente
investigadas, estão costurando os demais
mensalões que o sistema precisa engendrar. Alguns já descobertos, outros por
descobrir. Mas a verdade é que, nessas mesmas instituições citadas nos
noticiários e nos autos dos processos, muito mais dinheiro que o apurado, nas
investigações de quase uma década, já saíram em malas de carros, cuecas,
envelopes e outros meios menos óbvios para contas numeradas em paraísos
fiscais. A máquina não para. Ela, em certos momentos engasga e cospe fora
engrenagens desgastadas, mas o movimento continua.
Então deveríamos aproveitar nossos dotes de paraíso natural,
como outras nações no Caribe fizeram e adotarmos logo a postura relaxada em
relação a esses crimes. Na verdade deveríamos nos tornar nós mesmos um imenso
paraíso continental fiscal tropical. Já temos um sistema bancário aparelhado e
seguro, na verdade um dos mais seguros do mundo em termos de garantias ao
investidor. Então é só convidar para cá os trilhões que repousam hoje em bancos
suíços meio velhos e abalados ou nas
ilhazinhas caribenhas. O nosso lema deveria ser: O Brazil lava melhor. Aqui
mesmo em caso extremo de investigação e condenação, as penas são brandas, a
cadeia tem pizza e hidromassagem e a progressão das penas uma moleza.
Já tem até jingle pronto: Vem pra cá você também, vem! E com
garantia do governo federal até 30 salários mínimos! Enfim vamos transformar o
Brasil em um grande paraíso para o dinheiro sem fronteiras. Assim deixamos a
floresta amazônica em paz, paramos de fazer buracos em Minas para extrair o
ferro e não arriscamos mais nossos verdes mares extraindo petróleo. Vamos
explorar petrodólares. É mais lucrativo e não agride ao meio ambiente. E
teremos algumas vantagens. Basta aprender com o erros de outros e aproveitar as
facilidades. A extinta União Soviética é um modelo a seguir e ainda teremos a
vantagem do sol. Afinal que adianta ser rico e corrupto com um frio de
congelar? Embora eles tenham a vodka e as russas. Mas aqui temos a cachaça e as
periguetes.
Da Espanha devemos aprender a lição de não colocar todos os
ovos no mesmo cesto, afinal lavar dinheiro apenas do narcotráfico pode, em
alguns momentos, ser uma desvantagem. Ainda temos a China, mas eles lá têm o
defeito de quererem ainda trabalhar. Precisam modernizar um pouco mais o livro
vermelho. Mas todos tem lições a oferecer. O importante é aproveitarmos todas
as expertises que temos aqui. Corruptos já somos. Gostamos de dar jeitinho em
tudo. Somos chegados a ganhar dinheiro
sempre de maneira fácil. Temos belezas naturais impressionantes e ilimitadas.
Depois da Copa e das Olimpíadas estaremos sabendo receber melhor os turistas.
Embora não seja esse o tipo de público que virá para cá.
Afinal os bilionários que investirão suas contas polpudas e
secretas por aqui querem muito luxo. Mas disso até nossos pobres entendem. Já
sabia disso o Joãozinho Trinta e os traficantes do Alemão e da Rocinha. Nossas
moças parecem sempre entusiasmadas por homens de bolsos cheios. E isso é um
ponto crucial. Não existe corrupção, máfias, carteis e contas numeradas sem
diamantes e mulheres. Inclusive o próprio Assange deveria ter bolinado, se é
que o fez, umas moças brasileiras. Teria se livrado a muito tempo das acusações
e por pouco dinheiro. Afinal, se uma advogada, assessora de gabinete, se vende
por um cachê de playboy para reparar a honra, o que dizer de uma recepcionista
de wikileaks.
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