sábado, 3 de maio de 2014

Irmãos...



Chico Buarque começa uma de suas canções com dois versos: “Oh, pedaço de mim. Oh, metade afastada de mim” e a poesia segue. Mas o resto não vem ao caso, pois fala da tristeza de viver longe dessa metade cara. Quem tem irmãos e os ama de verdade sabe do que estou falando. Não existe ninguém no mundo que seja mais sua metade que seu irmão. Nem pai, nem mãe, nem filhos. Todos esses são apenas metades que se agregam às nossas vidas. Mas irmão não. Irmão é o todo de duas metades. 

Não há dois seres humanos no universo com genes mais parecidos, pois vieram das mesas duas partes. Nenhum outro ser humano habitou, um dia, o mesmo corpo de mãe. Essa que era metade mas pariu inteiros. Irmão é metade inteira, é cúmplice, é seu outro eu em outro corpo. Irmão ama incondicionalmente. Irmãos entendem um ao outro mesmo antes que qualquer um diga uma palavra. Ninguém pode ser mais parecido, podendo ser tão diferente e único. Irmão é substantivo, pode ser sujeito, mas quando é adjetivo para o que é muito semelhante não há, em nenhuma língua, palavra que melhor defina.
 
Irmão mais velho tem privilégios. Conheceu o outro, antes mesmo que esse se conhecesse. Pode acaricia-lo na barriga materna. Viu seu crescimento, antes mesmo de conhecer seu rosto. Quando o novinho nasceu, já eram velhos conhecidos. Já havia o amor e o laço. Dizem que tem ciúmes ao ver os cuidados que a mãe tem com o recém-chegado. Mas não é ciúmes da genitora e sim da metade. Queria ele poder cuidar, acalentar e segurá-lo nos braços - tempo todo. Mesmo as mães que nos conhecem tanto, não entendem isso de início. Irmão que tem mana mais nova é meio irmão, porque é meio pai. Cresce cuidando de si e olhando pelo outro.

É mana, hoje você faz cinquenta e dois. Mas para mim é como se ainda fôssemos crianças e eu segurasse sua mão para atravessar a rua. E nessa estrada nunca mais largamos as mãos. Hoje eu não posso estar aí segurando sua mão e lhe dando um abraço. Mas basta eu fechar os olhos para estar perto de você. Então finalizo como Chico termina a canção: “Oh, pedaço de mim Oh, metade adorada de mim”. Que os anos ainda sejam muitos, a alegria farta e o caminho longo para seguirmos de mãos dadas!

Te amo!

Brasília, Abril de 2014

3 comentários:

  1. Eu tenho 6 irmãos, 5 deles bem mais velhos que eu e se consideram meus pais, comigo a família é formada por 6 moças e apenas 1 rapaz ,coitado!! Aguentou firme aos ataques femininos , tpms , arranhões , tapas e reclamações mantendo-se firme como um perfeito cavalheiro.
    Nunca havia pensado por esse lado com que você descreveu tão bem sobre as metades inteiras formadas por duas pessoas ( pai e mãe) aliás , nunca vivi este tipo de relação com eles. Talvez pela diferença de idade , pela forma com que fomos criados, a distância , tenha afetado esta relação plena de amor incondicional.E quanto aos ciúmes do irmão mais velho para com o mais novo, creio que exista sim , o ciúme da progenitora com relação ao recém- nascido pelo irmão mais velho , quando a mãe não lhe atribui os mesmos carinhos e afetos, como no meu caso em particular, que percebia um laço maior de amor e ternura de minha mãe para com minha irmã mais nova, o que era constantemente recompensado pelo meu pai que era mais próximo a mim.Infelizmente ou felizmente, nem todas as famílias são iguais. Abraços!

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    1. Sandra,
      Diz essa crónica em homenagem a minha irmã. A única menina da foto ao lado de meus primos-irmãos. Fomos criados quase juntos. Beijos.

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  2. Notei certa subjetividade no emprego das palavras. Obrigada pelo esclarecimento, mesmo sendo um escritor tão ocupado é sempre atencioso com seus fãs leitores. Bjs

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