quarta-feira, 28 de junho de 2017

Adote a mulher!

Na imagem Mônica e Cebolinha jogam futebol. Fonte: http://passeioskids.com/ferias-museu-do-futebol-turma-da-monica/

Mas muita calma nessa hora! Machos arcaicos, não é da forma que vocês estão pensado. Amadas, não me atirem pedras antes de lerem o texto. O significado aqui é outro. Significa, para além de respeitar a todas com igualdade, solidariedade e ética, escolher algumas – já que estamos falando de uma espécie de programa – em que determinadas qualidades as façam candidatas a liderar protagonismos. Seja no âmbito profissional, na educação ou no ativismo social. Não importa que seja ela uma pessoa devotada exclusivamente aos cuidados com a família, ou uma promotora de causas sociais ou uma pessoa mais engajada com a profissão. Na verdade, todos nós – e muito mais as mulheres – fazemos um pouco disso tudo. Por necessidade ou vocações.

Prepare essas mulheres para o protagonismo,
para a liderança ou para simplesmente se tornarem melhores naquilo que executam. E quanto mais você se achar preparado para a atividade que você executa, muitas vezes pelo privilégio de ser homem, se esforce para que essa mulher seja melhor que você. Não no sentido competitivo, mas nas competências. Adotar uma mulher, como aqui me refiro, é muito mais que respeitar direitos, evitar o machismo, as atitudes sexistas, condenar a violência ou o abuso sexual. Significa trabalhar ativamente para desenvolver potencialidades. Para formar lideranças – que podem resultar em um futuro bem próximo, eu espero – que essa mesma pessoa seja a sua liderança.

Hoje muitos homens já se engajaram no apoio aos movimentos igualitários. Muitos já eram, naturalmente, igualitários e solidários. Outros mudaram e tentam extinguir os maus hábitos próprios e preconceitos. Mas ainda é muito pouco. Por cima dessa disparidade de direitos e acessos a oportunidades, existem toneladas de escombros, resultantes de séculos de pensamentos retrógrados e misóginos. As causas vão desde o obscurantismo religioso, ritos sociais e culturais e principalmente da falta de solidariedade e do egocentrismo exacerbado que infelizmente é um mal do animal humano.

Não importa qual posição você ocupe no âmbito do trabalho ou em sua comunidade. Não importa sua religião ou criação. Você deve estar atento e aberto a perceber que não basta NÃO fazer determinadas coisas – na verdade todas bem óbvias – que hoje tentam ensinar a você os movimentos feministas. É preciso ir além. A postura da aceitação do erro e da mudança de hábitos é louvável. Mas o protagonismo é mais valioso. Significa que alguém entendeu e aceitou que mudanças são necessárias e, para além disso, percebeu que a mudança só poderá ser permanente – momento onde não será mais necessária a luta – se houver, no presente, uma postura de colaboração e participação ativa nessa transformação.

Há um certo determinismo no pensamento humano que faz com que acreditemos que mudanças tímidas não são mudanças. Que não resolvem o problema maior. Essa crença faz com que muitas vezes, indivíduos isolados, porem com pensamento diverso da maioria, sintam-se impotentes para agir. E oportunidades se perdem. Em minha caminhada, ainda luto para extinguir em mim mesmo esse hábito. Embora me considere irrequieto, questionador e provocador de mudanças de paradigmas, muitas vezes caio em tentação de não agir por puro desânimo. Para finalizar deixo aqui um relato que pode servir de estímulo ou inspiração.

Em uma das várias posições de liderança que ocupei, desta vez como empregado, percebi, logo ao assumir o cargo, que estava para chefiar um “clube de Bolinhas”.  No quadro de vagas, que estava com menos da metade de ocupação e que deveria ser completado, noventa por cento dos funcionários eram homens. E pela quantidade de empregados, deveria haver pelo menos duas vagas preenchidas por pessoas com deficiência. Ao solicitar ao departamento de gestão de pessoas – predominantemente chefiado e populado por mulheres – solicitei que os esforços de seleção deveriam ser direcionados a contratação de mulheres e PCD’s. Obtive duas respostas desanimadoras.

A primeira era que os editais de contratação não poderiam mencionar, no caso das vagas para pessoas não PCD’s, que as vagas eram preferencialmente para mulheres. Como assim? De que forma poderiam haver mudanças, se a principal ação para que isso acontecesse, não fosse uma seleção direcionada? Quanto as pessoas com deficiência, a questão deveria ser mais simples, pois estava prevista em lei. Mas havia resistências dentro do próprio departamento de recursos humanos. A razão era o tal desânimo que faz com que aceitemos o anormal como coisa certa: a seleção de PCD’s era mais difícil, pela falta de candidatos e pela resistência das chefias em aceitar essas pessoas. Havia casos de dispensa de bons candidatos selecionados, dias antes da contratação, porque o gestor do futuro funcionário se recusou a recebe-lo. E tudo isso significava retrabalho para o RH da empresa.

Mas no meu caso, isso não seria problema. Pois partia de mim, explicitamente, solicitação de contratação de candidatos com deficiência. E vale ressaltar aqui que essa atitude, causou admiração e estranheza ao pessoal da gestão de pessoas. Mesmo? Mas enfim... No outro caso – do preenchimento igualitário ou, no melhor dos mundos, predominantemente ocupado por mulheres – a situação era mais complicada. Não para mim, pois eu já sabia como iria proceder. Mas simplesmente fazer o que eu faria, não traria nenhuma mudança afirmativa. Então ao invés de fazer a escolha final por candidatas e não por candidatos – já que apesar de todo processo seletivo ser “igualitário” a entrevista final tinha maior peso e a decisão de escolha era minha – sem deixar isso claro ao RH, eu fiz questão de informar a eles (no caso elas) que realmente faria isso. Explicitar uma atitude de desafio à regras impostas, a meu ver, é uma forma de provocar mudanças. E também de angariar antipatias...

Para resumir a estória: Depois de um ano passado, a ocupação dos cargos por mulheres subiu de 10 para 30% e para pessoas com deficiência eu agora estava, pelo menos, dentro do que determina a lei. Devo ressaltar que mais não foi feito, não por esforços meu e da gestão de pessoas. Realmente presenciei a dificuldade de se encontrar PCD com a formação necessária às vagas disponíveis e, no caso da igualdade de gêneros, embora eu estivesse disposto a preterir candidatos do sexo masculino mais bem qualificados, em benefício de criar oportunidades para candidatas com grande potencial de desenvolvimento, mesmo assim não apareceram mulheres interessadas nas vagas e com um mínimo de formação para que assumissem os cargos sem grandes dificuldades. Aqui cabe ressaltar que, mesmo havendo a disposição em incentivar a igualdade, deve haver um princípio de justiça e ética. E, nesse caso, não seria justo dispensar candidatos masculinos para beneficiar candidatas, somente por serem mulheres.

Nesse caso, o que se percebe é um ciclo vicioso. Pessoas com deficiência não tem qualificação por que o mercado de trabalho não está aberto a elas e o mercado de formação acaba acompanhando. E no caso de mulheres, em determinadas profissões, acho que falta a elas mesmas o estímulo a se desenvolverem nessas áreas. Acho que pelo fato de saberem – por conta do machismo vigente em determinados nichos – que não terão muitas oportunidades em determinadas funções, acabam procurando outras formações e ocupações.

Mas a experiência desse processo todo foi para mim e acho que para a empresa, bastante positivo e enriquecedor. E quanto ao tema desse artigo, a adoção de uma mulher, devo informar que ao sair daquela empresa, mesmo tendo sofrido assédio moral e uma grande injustiça com o trabalho que realizei, pude inspirar meus superiores a colocar em meu lugar uma mulher. Uma pessoa que durante vários anos pude ajudar se preparar para futuras posições de liderança e, acima de tudo, realizar seu sonho de trabalhar naquilo que gostava e era vocacionada.
E, pelo que sei, essa pessoa até hoje está nessa empresa, desempenhando suas funções como gestora, com sucesso e competência profissional. E ela mesma tem se esforçado para acabar de vez com o Clube do Bolinha.


Na verdade não deve haver um Clube das Luluzinhas como resposta aos clubes dos bolinhas. A meu ver uma Turma da Mônica inteira, com sua diversidade e pluralidade, é o caminho para a superação das desigualdades.  

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