sexta-feira, 7 de maio de 2021

Brasil e Índia, tristes coincidências...

 












Um trabalhador de um crematório carrega madeira para a cremação de vítimas que morreram de Covid-19 em terreno na margem do rio Ganges, em Allahabad em 27/04/2021. Foto: Ritesh Shukla/NurPhoto via Getty Images.

A escalada da epidemia na Índia reforça duas constatações cruéis e historicamente arraigadas na atual cultura global. A divisão do mundo em castas e a desigualdade social. A pandemia de Covid19, ao contrário de outras epidemias e doenças transmissíveis ou não, não poupa os mais ricos. Mas com certeza atinge de forma desproporcional as populações mais carentes e desassistidas ao redor do mundo. Durante décadas uma pequena parte da população mundial se acostumou confiar nos seus sólidos sistemas de saúde, acesso a medicamentos e recursos médicos avançados e a falsa noção de segurança de que catástrofes sanitárias, como a atual epidemia de SarsCov2, teriam ficado no passado, como a Gripe Espanhola, que dizimou muito mais vidas, em números absolutos e relativos, que o vírus causador da Covid.

O mundo desenvolvido sempre virou as costas para a desigualdade dos países mais pobres. E mesmo em seus próprios territórios a pobreza e desigualdade social foi sempre camuflada, disfarçada e jogada para baixo do tapete da falsa pujança econômica. Talvez por isso tenham sido pegos de surpresa. Países com alto grau de desenvolvimento econômico estão sendo fortemente afetados e experimentando apagões em seus sistemas de saúde. Agora a Índia assusta o mundo com a escalada de uma segunda onda da pandemia sem precedentes em número de mortos e casos diários de contágio. O medo do surgimento de novas variantes mais contagiosas e letais e mesmo um senso humanitário, pautado por uma certa etiqueta internacional, que só se coloca em movimento em casos de grande repercussão midiática, começa a movimentar o envio de equipamentos, insumos médicos e profissionais de saúde para tentar auxiliar uma emergência, que pelo tamanho da população envolvida e as condições precárias de assistência hospitalar, parece ser uma tarefa sem chances de sucesso a curto prazo.

sábado, 1 de maio de 2021

A vacina Tríplice Viral (MMR) teria ajudado a frear a pandemia?

Nos primeiros meses da pandemia de Covid, em março de 2020, começaram a surgir nas revistas médicas, especializadas em publicar artigos científicos, os primeiros trabalhos mostrando evidencias plausíveis de que a imunização prévia com algumas vacinas, regularmente aplicadas em quase todo o mundo,  especialmente a MMR (no Brasil conhecida como Tríplice Viral) produziam forte resposta imune cruzada contra o vírus SarsCov2. Polêmicos, esses artigos foram alvo de revisão por pares ao longo do ano de 2020. hoje, passado um ano, quando se pesquisa o assunto "MMR and Covid" no Google, aparecem dezenas de trabalhos já publicados. Alguns são meta-análises de outras publicações. Em todos os trabalhos publicados, em suas conclusões finais, os autores ressaltam que é necessário o aprofundamento dessas pesquisas, com grupos maiores e métodos de controle científicos para confirmar os estudos iniciais.

A partir do segundo semestre de 2020 as notícias promissoras em relação a pesquisa e início da produção de várias vacinas específicas contra o vírus causador da Covid19 ofuscaram o interesse e talvez até o apoio financeiro para verificar a viabilidade de se usar vacinas seguras, amplamente disponíveis e já testadas e aprovadas a décadas para tentar conter a pandemia. A celeridade com que foram conduzidas as pesquisas e testes dos novos imunizantes para proteger contra o SarsCov2 e sua posterior aprovação para uso emergencial ou definitivo deu uma sensação de segurança a comunidade científica e a população mundial. Mas esse excesso de otimismo também se refletiu na previsão que se poderia fabricar em tempo recorde os bilhões de doses necessárias para imunizar toda a população mundial no espaço de tempo necessário para parar a doença e evitar o desenvolvimento das variantes perigosas.