O ditado popular é antigo. Mesmo
já estando fora de moda, na linguagem dos mais novos, reflete uma triste
verdade. Mesmo em tempos de catástrofes,
como a que o mundo vive agora, o egoísmo e a ganância não dão tréguas. É inato
a todas as espécies vivas, em momentos de grande perigo ou escassez de
recursos, querer sobreviver a qualquer custo. Seria razoável pensar que, pelo
menos na espécie humana, por conta da razão e da inteligência emocional, esse
tipo de comportamento fosse diferente. Não é o caso. Como no naufrágio do navio
Titanic, que por economia e excesso de confiança dos construtores, tinha
muitos menos botes salva vidas do que a
capacidade total de passageiros, o que se viu
foi os mais ricos, mais fortes e mais espertos embarcarem primeiro. Conta
à história que alguns botes foram baixados ao mar com lugares sobrando. A
maioria dos passageiros com bilhetes mais baratos morreram na tragédia. A arrogância
do capitão – e toda semelhança aqui não é mera coincidência – em seguir viagem,
mesmo com nevoeiro e avisos de icebergs na rota, levou ao desastre.
Agora, no momento que o mundo precisa de muitos milhões de doses de vacinas – na verdade bilhões – alguns países tem estoques de vacinas já recebidas ou encomendadas, suficientes para vacinas várias vezes todos os seus cidadãos. A grande maioria, no entanto, segue sem previsão de receberem as primeiras e escassas doses que sobraram. Farinha pouca meu pirão primeiro. Do outro lado da balança, que pende sempre para os mais ricos e para o capitalismo selvagem, estão os fabricantes europeus que parece que andaram vendendo e cobrando adiantado por milhões de doses que prometeram entregar, mas que não tem capacidade industrial de produzir no tempo contratado. Mesmo assim a distribuição do pouco que é produzido não segue parâmetros justos.