Portugal chegou a ficar no topo das listas de países afetados pela pandemia em relação a novos casos, mortes diárias e mortes totais por milhão de habitantes nos últimos dias de janeiro de 2021. No dia 28 de janeiro o país viu morrerem 303 cidadãos. O número diário mais alto de todo o período que já dura a pandemia. Para nós, aqui no Brasil, onde já se tornou banal a perda média diária de mais de 1200 vidas, sem grande parte da população dar importância, em um país com alto grau de desenvolvimento e cerca de 8 milhões de habitantes, trezentas vidas perdidas se tornou um escândalo. O relaxamento das medidas de confinamento durante as festas de final de ano, que foram duramente criticadas pelos profissionais de saúde, mas concedidas pelo governo em função de pressões políticas, econômicas e principalmente pelo peso que a tradição dessas comemorações tem na cultura portuguesa, levaram a uma explosão de contágios, aumento de internamentos em enfermarias e unidades de terapia intensiva e principalmente a explosão do número de mortos.
No dia 15 de janeiro último o
governo português decretou um rígido lockdown
(como é chamado por lá), inclusive com o fechamento de todas as escolas dos
diversos de ensino. Vale ressaltar que em muitos países da Europa o fechamento
de escolas não é visto com bons olhos pelos cidadãos e autoridades da área de
educação. Uma dimensão da importância que dão a educação, coisa que
infelizmente não é parte de nossa cultura. Nos confinamentos anteriores o
governo português relutou em fechar escolas. A medida parece ter surtido
efeito. Como previsto pelas autoridades de saúde, após quinze dias, onde a
situação na verdade iria piorar, chegando aos números recordes que se viram em
31 de janeiro, com hospitais e todo o sistema se saúde entrando quase em colapso,
agora, em 15 de fevereiro, portanto quinze dias depois dessa alta e trinta dias
em lockdown rigoroso (inclusive com fechamento de todas as fronteiras terrestres,
marítimas e aéreas), o país vê uma queda acentuada nos indicadores de gravidade
da pandemia.
O número de novos diários casos caiu
de cerca de 16 mil para pouco mais de 1600 e o de mortes da média de 300 para
cerca 150 por dia em apenas quinze dias. A situação em Portugal ainda está
longe de ser controlada. As duras medidas de confinamento ainda vão se
prolongar até o final de março, podendo se estender até abril. O governo português,
que foi muito criticado, tanto pelos partidos de oposição, quanto pelos
cidadãos, por não ter, desde o início da pandemia definido regras claras para
os sucessivos confinamentos e desconfinamentos, além de regras para
funcionamento de escolas e estabelecimentos comerciais, agora adotou metas
precisas em relação aos números de novas infecções diárias, índice de transmissibilidade
(Rt), internações em enfermarias e nos cuidados intensivos. E enquanto não
atingirem essas metas o lockdown continuará. Aqui no Brasil, se houvesse um governo de fato e um povo mais sensato, significaria baixar em trinta dias, esse número absurdo de 1200 mortes diárias (em média), para pouco mais de 500. Um número extremamente alto e doloroso, sem dúvida, mas pelo menos vergonhoso e triste.
Evidentemente o custo financeiro
para as contas públicas, o impacto no orçamento para os próximos anos e a queda
no PIB serão muito ruins para Portugal. Mas o governo e o povo parece finalmente
ter entendido que nada disso pode se sobrepor ao custo do sofrimento e da dor
de milhares de perdas de vidas. A esperança dos portugueses agora se foca na
chegada das vacinas, que como na maioria dos países no mundo, chegam em
quantidades pequenas e insuficientes para que se atinja os 70% de vacinados e a
esperada imunidade de rebanho. Mas cabe ressaltar que há também, apesar de
todos os sacrifícios, como desemprego, perda de rendas, aumento da pobreza, prejuízos
na qualidade da educação de crianças e adolescentes, a esperança que o esforço
que o povo português está fazendo agora, independentemente de vacinas ou descoberta
de novos remédios para combater o vírus, possa se não acabar, mas pelo menos diminuir
muito as mortes, sofrimento e medo que essa pandemia inflige nas pessoas. Porque
isso mostrará a todos que em momentos de crise ou catástrofes a cidadania, o
patriotismo, a responsabilidade pessoal e com o grupo são os valores mais
importantes de um povo e uma nação.
Brasília, 15/02/2021.
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