Se
a quantidade absurda e desnecessária de mortes - já que grande parte delas
poderia ser sido evitada – que se acumulam e chegam ao quarto de milhão,
parecem não sensibilizar mais a opinião pública brasileira, por ouro lado, as
notícias sobre a campanha de vacinação, que caminha a passos lentos e
imprevisíveis, passou a ser o foco no jornalismo e no discurso dos gestores
públicos e políticos. Estes últimos, tentando desviar a atenção do povo dos
erros e absurdos cometidos na condução das politicas para combate ao Covid. Mas
basta uma leitura rápida nas matérias de alguns jornais para se perceber que a
falta de clareza e planejamento continua a ser a norma. Frases prontas,
expressões de efeito, transferências de responsabilidade e propostas condicionais
são a temática presente em todas as declarações.
Tudo cuidadosamente pensado por marqueteiros e assessores de imprensa para mascarar o obvio: não temos e nem teremos vacinas em quantidade suficiente e tempo hábil para controlar a pandemia nos prazos preconizados por especialistas e nem nos prazos fantasiosos dos governantes e autoridades sanitárias. Não apenas a severidade do vírus, sua propagação e a taxa de mortalidade evidenciam que uma resposta rápida em todo o mundo deve ser dada, mas o surgimento de novas cepas e variantes do Covid, que aumentam em número e grau de severidade, colocando em risco mais vidas e o próprio processo de vacinação, que ainda caminha a passos lentos em todo mundo, levando inclusive muitos cientistas a afirmarem mesmo que as vacinas atuais, que mal começam a ser distribuídas, já devem ser modificadas em face da provável ineficácia contra essas variantes.
E
o público, ao ler as notícias nas primeiras páginas de todos os jornais, ou ao
assistir ao informativos na televisão, geralmente ao final de um dia de
incertezas e medo – pelo menos alguns ainda tem o temor justificado e
científico sobre a pandemia – escuta e lê frases e palavas do tipo:
“A
expectativa é de que grande parte das doses disponíveis sejam aplicadas no
atual grupo prioritário até 22 de fevereiro. O prosseguimento depende do envio de mais 100 mil doses,
prometidas pelo Ministério da Saúde para 23 de fevereiro.”
“Caso o recebimento seja confirmado, a pasta deve ampliar a
vacinação, inicialmente, para pessoas entre 75 e 78 anos.”
“Apesar
da atual preocupação entre os gestores da pasta, há esperança de um cenário melhor para o segundo semestre
de 2021. Com o recebimento do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) para
a produção de vacinas contra o novo coronavírus, o país terá condições de fabricar cerca de 1 milhão de
doses por dia, o que seria suficiente para manter a vacinação sem interrupções.”
“No
entanto, o grande problema
é a falta de doses disponíveis neste momento. Na semana passada, em depoimento no Senado, o
ministro da Saúde, Eduardo
Pazuello, prometeu mais 4,8 milhões de doses nos próximos dias para dar
continuidade à vacinação da primeira fase prioritária.
O
montante está longe de ser suficiente para alavancar o ritmo da campanha e
chegar ao patamar médio de
620 mil brasileiros vacinados por dia. Essa realidade só deve ser vista em meados de
março, quando, segundo o ministro, o país terá capacidade de produzir 30 milhões de unidades
mensais.”
“O
cálculo é feito ao longo de um pico epidêmico, que, em nosso modelo, dura em torno de 200 dias.
Após a vacinação dos grupos prioritários, uma queda no número de mortes já deve ser percebida,
mesmo que as infecções ainda continuem ocorrendo.”
“Considerando
que a vacina chinesa cumpra com a eficácia anunciada de 50,38%, e ofereça proteção de 100% contra os casos
graves da doença, a previsão é que as hospitalizações diminuam 28% e as mortes, 45% no período
estimado.”
“Pazuello
não descartou incorporar novas vacinas ao PNI, mas, mesmo sem elas, prometeu: “Nós vamos vacinar o
país em 2021: 50% até junho e 50% até dezembro da população vacinável.”
“As
taxas nesta semana, por exemplo, continuaram sendo quatro vezes superiores ao que o mundo registrou em
abril, no pico da primeira onda da doença. As mortes por semana também continuam bem acima do pior momento da
pandemia no primeiro semestre de 2020.”
Os
parágrafos acima, todos retirados de veículos de imprensa, falam sempre no
tempo futuro, das possibilidades, das expectativas, das previsões
condicionantes, das incertezas e das promessas vazias. Quando se referem ao
passado, o fazem para comparar números passados da tragédia, com dados piores
ainda. Esse discurso de incertezas, repercutido nas mídias, reflete as
mensagens oficiais e oficiosas dos governantes e autoridades de saúde. Muitos
mentem inclusive em reuniões oficiais, alardeando números que não podem
comprovar ou promessas que não poderão cumprir. Dão a impressão que tudo está planejado,
controlado e correrá bem... Mas apenas no futuro nebuloso de suas visões
utópicas ou criminosamente fantasiosas.
E
o povo segue em direções tão opostas como a disparidade dos números e
previsões. Uma minoria mais atenta e comprometida com a gravidade da situação
se desespera ao ver as filas de doentes às portas dos hospitais, as mortes que
poderiam ser evitadas e os necrotérios e cemitérios sem espaço. Outros, os
tolos e negacionistas egocêntricos, agem como se nada estivesse acontecendo. Continuam
suas vidas, inclusive insistindo em atitudes de desafio, se aglomerando em
festas, bares, lugares públicos. Sem querer usar máscaras, sem respeitar o
distanciamento e, sobretudo, seu próximo. E como sempre, nessa república jogada
aos ratos e baratas, e aos mais variados patógenos, fora o coronavírus, que
matam brasileiros a séculos, há os que lucram fácil e se aproveitam de toda
essa indecisão e falta de clareza nas informações.
Além
de leitos de tratamento, respeito às medidas preventivas, testagem, rastreio e
vacinas, precisamos ainda com a mesma urgência de informações certas e
confiáveis. Sem essas medidas no tempo certo – que já passou faz tempo –
continuaremos anos nesse atoleiro sanitário e econômico que afunda mais ainda o
Brasil. E o sofrimento e prejuízos de mais essa crise vão se estender muito além
do necessário e ficaremos isolados do restante do mundo.
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