À esquerda,"Chair" , 1969, escultura de Allen Jones, acervo da Tate Modern, Londres e a direita a galerista russa Dasha Zhukova sentada em uma cópia inspirada no trabalho original de Jones.
Aí fica complicado definir o que seja ou não racismo. Dasha Zhukova, galerista russa, foi fotografada para a revista de arte Buro 24/7, editada em Moscou, sentada em uma escultura explicitamente inspirada na obra "Chair" (1969) de Allen Jones. A peça original, faz parte do acervo da Tate Modern em Londres. A foto causou comoção e comentários furiosos na web mundo afora. Acusaram a revista, que a fotografou para a entrevista e a própria galerista de racismo. Será que é tanto assim? Ou a foto estava fora de contexto e mal interpretada?
Talvez os que tenham visto a imagem, sem dúvida desafiadora, sem conhecer o contexto da obra original e da cópia, pudesse achar que se tratava mesmo de uma cadeira. Na verdade a galerista não deveria estar sentada sobre a escultura, não por dar a entender racismo, mas primeiramente por respeito e cuidado com uma obra de arte.
Achei a reação de repúdio exagerada e descabida. É o tipo de comportamento que toma dois vieses. Se por um lado tenta reforçar, pelo caminho torto, a luta contra a desigualdade racial criando um factoide, por outro, acaba por tirar do negro até mesmo a oportunidade de participar como modelo ou inspiração para artistas e a própria arte.
Então quer dizer que se eu, artista, faço uma instalação usando apenas bonecos de pele claríssima, olhos azuis e cabelos lisos e loiros, eu sou racista. Mas se eu uso bonecos negros sou racista também? Como fica a arte? Como fica a liberdade de expressão e criação? Quando se observa as duas imagens com o coração aberto, se percebe que ela trata de tudo menos de racismo.
Tem uma referência ao fetiche, ao objeto sexual, a dominação e submissão. Talvez Allan Jones estivesse apenas querendo denunciar, em 1969, no auge do movimento feminista nos Estados Unidos, a posição de objeto sexualizado e submisso com que a sociedade e a mídia tratavam as mulheres. E ainda tratam. E não é uma questão de cor. Seja na República Centro Africana, na Síria ou na Índia, na Bósnia ou no Brasil, brancas, negras, índias ou orientais são diariamente objetificadas, violadas e exploradas.
Marcelo Ruiz
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