terça-feira, 10 de outubro de 2017

O nu na arte, na minha arte...

Fotografia da série "Não me olhe assim desse jeito..." (Brasília, 2004). Foto Marcelo Ruiz

Para mim, como artista/fotografo, um corpo nu e apenas um amontoado de argila, material que usamos para esculturas, seja para fazer um molde que posteriormente será usado para fundir a peça definitiva em bronze ou cozido em altas temperaturas para se tornar a escultura em si. No contexto do meu trabalho, um corpo nu é apenas um suporte, um material onde vou expressar meu pensamento/desejo/motivo em realizar determinado trabalho.


Ficar frente a frente com um corpo desnudo, seja de homem ou mulher, não me proporciona nenhum prazer de conotação sexual ou erótica, embora o resultado final possa ter uma carga de erotismo. Mas essa mensagem não vira do nu em si ou do corpo-carne. E sim de como o outro verá meu trabalho. E cada um verá no resultado final da obra pronta o que quiser ver. Provavelmente o erótico, o sensual, o obsceno estará na cabeça e no olhar de quem fruir minha obra terminada, mesmo que eu mesmo não tenha tido a intensão de mostrar esse viés.

Provavelmente a maioria dos observadores de alguns de meus trabalhos com corpos nus verão tudo, menos a denúncia real – dentro da minha realidade – que estou tentando comunicar. E eu como artista não estou interessado na opinião de quem vê meu trabalho. Isso não é relevante. O que eu quero revelar é só meu. E não preciso dar explicações e nem permito que me perguntem o que “quis dizer com aquilo” que está exposto, pois não me sinto obrigado a fazer sentindo do meu trabalho para o outro. Devo satisfações somente a mim mesmo. Tentando dar sentido ao meu estar no mundo.

Quem vê pornografia em representações do nu, quem se incomoda com a pessoa ou criança que toca um pé de um corpo nu, que naquele momento não é mais carne, não é mais humano e sim um suporte para uma obra, como um pedaço de mármore, argila, bronze ou tela de lona, é que traz o preconceito, o pornográfico, o sintoma do desequilíbrio dentro de si.  Pedófilo não é apenas aquele, que na definição da lei, abusa de uma criança. A palavra em si, de origem grega, significa aquele que gosta de crianças. Portanto quem vê onde não existe, uma conotação sexual que não está na cena em si, deve ter sérios problemas com suas próprias preferencias ou entendimento de sua sexualidade. Precisa ver fora, o que não está ali, para evitar pensar no que esta dentro de si e incomoda ou assusta.


Não somos só nós que vemos as coisas...as coisas nos olham... e nos acusam do porque e do que estamos vendo nelas...

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