Fotografia da série "Não me olhe assim desse jeito..." (Brasília, 2004). Foto Marcelo Ruiz |
Para mim, como artista/fotografo, um corpo nu e apenas um
amontoado de argila, material que usamos para esculturas, seja para fazer um
molde que posteriormente será usado para fundir a peça definitiva em bronze ou
cozido em altas temperaturas para se tornar a escultura em si. No contexto do
meu trabalho, um corpo nu é apenas um suporte, um material onde vou expressar
meu pensamento/desejo/motivo em realizar determinado trabalho.
Ficar frente a frente com um corpo desnudo, seja de homem ou
mulher, não me proporciona nenhum prazer de conotação sexual ou erótica, embora
o resultado final possa ter uma carga de erotismo. Mas essa mensagem não vira
do nu em si ou do corpo-carne. E sim de como o outro verá meu trabalho. E cada
um verá no resultado final da obra pronta o que quiser ver. Provavelmente o
erótico, o sensual, o obsceno estará na cabeça e no olhar de quem fruir minha
obra terminada, mesmo que eu mesmo não tenha tido a intensão de mostrar esse
viés.
Provavelmente a maioria dos observadores de alguns de meus
trabalhos com corpos nus verão tudo, menos a denúncia real – dentro da minha
realidade – que estou tentando comunicar. E eu como artista não estou
interessado na opinião de quem vê meu trabalho. Isso não é relevante. O que eu
quero revelar é só meu. E não preciso dar explicações e nem permito que me
perguntem o que “quis dizer com aquilo” que está exposto, pois não me sinto
obrigado a fazer sentindo do meu trabalho para o outro. Devo satisfações
somente a mim mesmo. Tentando dar sentido ao meu estar no mundo.
Quem vê pornografia em representações do nu, quem se
incomoda com a pessoa ou criança que toca um pé de um corpo nu, que naquele
momento não é mais carne, não é mais humano e sim um suporte para uma obra,
como um pedaço de mármore, argila, bronze ou tela de lona, é que traz o
preconceito, o pornográfico, o sintoma do desequilíbrio dentro de si. Pedófilo não é apenas aquele, que na
definição da lei, abusa de uma criança. A palavra em si, de origem grega,
significa aquele que gosta de crianças. Portanto quem vê onde não existe, uma
conotação sexual que não está na cena em si, deve ter sérios problemas com suas
próprias preferencias ou entendimento de sua sexualidade. Precisa ver fora, o
que não está ali, para evitar pensar no que esta dentro de si e incomoda ou
assusta.
Não somos só nós que vemos as coisas...as coisas nos olham...
e nos acusam do porque e do que estamos vendo nelas...
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