Atercino Ferreira de Lima Filho, 51 anos, condenado injustamente tenta provar que é inocente. Foto: Reprodução da Folha de São Paulo |
Sim, os números ainda são alarmantes. Há muito ainda que
fazer para acabar com o feminicídio, a violência contra a mulher, os números
alarmantes de estupros e a desigualdade de condições de emprego e renda entre
mulheres e homens no Brasil e no mundo. Mas é preciso pensar que toda moeda tem
dois lados. Que injustiças também são cometidas contra os homens em nome da
punição severa que a situação requer. Juízes, promotores e delegados de ambos
os sexos e um sistema judiciários pressionado pela opinião pública, por
milhares de processos que se amontoam nos fóruns, pela urgência em resolver as
causas e mitigar o problema, acabam cometendo erros.
É certo que, na maioria dos casos os julgamentos e as penas são
corretamente aplicadas ao homem violento e criminoso. Mas a justiça também erra
e excessos são cometidos. Como os números desses casos são infinitamente
menores, eles acabam passando despercebidos. E as vítimas de erros judiciários
tem pouca visibilidade e enfrentam um caminho tortuoso para se defenderem.
Principalmente os que não tem recursos para pagarem bons advogados. Mas o
estrago na vida desses homens, se fica silencioso para a sociedade, não passa
desapercebido entre seus pares, nos presídios e entre seus familiares e amigos,
principalmente homens, que acabam desacreditando e desacreditados de que eles
devem participar ativamente para a redução da violência contra a mulher.
Casos como o mostrado na reportagem da Folha de São Paulo,
que pode ser lido clicando aqui, se repetem com mais frequência que supomos e
acabam por se tornarem um desserviço a causa da igualdade de gêneros. Sabemos
que a luta tem sido um trabalho de formiguinha entre mulheres e homens que se
empenham com a causa. O avanço é lento e qualquer revés como esse e outros que
aqui e ali se toma conhecimento, prejudica mesmo que em pequena escala os
avanços conseguidos. Fico imaginando o que pensam os parentes e amigos, homens
ou mulheres, das vítimas desses erros judiciais. Será que, mesmo simpáticos e
engajados à causa da igualdade e solidariedade entre gêneros, terão motivação
para continuarem na luta ou restará um tipo de mágoa surda em suas percepções
sobre o assunto?
O caso do vendedor Atercino Ferreira de Lima Filho, de 51
anos, é um exemplo de injustiça cometida por um sistema que não dá mais conta
da quantidade de crimes e processos que caem nas delegacias e fóruns
diariamente. Os próprios filhos tentam inocentá-lo, mas os meandros e caminhos
da reparação são tortuosos e demorados. No caso dele, que e o primeiro a ser
levado ao Judiciário pela organização Innocence Project Brasil, criada sob
inspiração de sua homônima nos EUA, por advogados criminalistas de São Paulo.
Vale ressaltar que o projeto, que tem similares em outros países do mundo, só
defende causas onde a inocência do condenado pode ser provada claramente.
Condenado a 27 anos de reclusão, o vendedor já cumpre pena
desde abril desse ano, quando se esgotaram todos os recursos de apelação. O
caso é de 2004 e desde 2012 o casal de filhos do vendedor, que à época do
julgamento, ainda menores de idade, foram as principais testemunhas de
acusação, tentam provar na justiça que foram induzidos sob tortura, por uma
amiga da mãe deles, a mentirem no processo e julgamento. O Ministério Público
de São Paulo, por sua vez, diz que “em tese” o caso pode ser revisto, mas há
todo o trâmite processual e mesmo o recurso apresentado ao STF em 2014 foi
indeferido pela Ministra Rosa Weber alegando que uma súmula vetava analisar
fatos e provas em recurso extraordinário.
Se mesmo o Supremo tem dificuldade de resolver o erro, já
documentado em diversas instancias inferiores com diversas provas e laudos,
imagine o calvário pelo qual deverá passar o réu injustamente condenado. Nesse
e em diversos outros casos, muitos nem noticiados pela mídia, acaba restando
entre os prejudicados e obviamente entre os homens que toam conhecimento de
tais erros e excessos um sentimento de revolta que só leva ao fechamento do
diálogo e ao sentimento de medo de, eles mesmos poderem a qualquer momento
sofrerem esse tipo de problema.
Eventualmente escuto de amigos homens manifestações de
receio quanto a serem perseguidos e sofrerem acusações injustas por parte de
companheiras ou ex-companheiras que, muitas vezes movidas por um sentimento de
vingança usam a facilidade com que a justiça dá crédito às mulheres como
instrumento punitivo por questões que seriam puramente motivadas por raiva ou
ciúmes. Não estou dizendo que a lei tenha que mudar e que na maioria das vezes
realmente as mulheres são vítimas contumazes de homens violentos. Mas que deva
haver um sistema mais preparado para investigar a veracidade dessas denúncias.
Somente com justiça bem aplicada e principalmente com
diálogo vamos conseguir superar esse problema. E casos como esse não ajudam em
nada as duas partes envolvidas.
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