sábado, 8 de julho de 2017

Japão: pouco sexo e muita longevidade...

Casal japonês andando na rua. Fonte:  http://www.bbc.com/portuguese/internacional-40527383


Pelo título que dei a esse post, pode parecer que uma coisa favorece a outra. Mas o assunto é bem diverso. Sexualidade fora do controle e baixa expectativa de vida podem ser desafios a serem resolvidos em diversos países. No Japão o problema é exatamente o oposto. Os dados mais recentes mostram que existem cerca de 32 milhões de homens e mulheres na faixa etária entre 25 e 45 anos que nunca estiveram em um relacionamento, onde cerca da metade são virgens, e que não desejam casar ou se relacionar com o sexo oposto. Lembrando que esse é o intervalo onde casais ou mulheres solteiras se programam para terem filhos. Mas outros fatores devem ser levados em conta. Na cultura japonesa, um homem só pensa em constituir família quando já está com a vida financeira e profissional equilibrada. Mesmo com a introdução de hábitos ocidentais, onde o casal decide junto quando irão se unir e pensar em ter filhos, as mulheres passaram a valorizar mais a vida profissional e o sucesso nos negócios do que a vida de dona de casa, que há algumas décadas atrás era o comportamento esperado delas.

Como a sociedade japonesa é permeada de regras sociais complexas
e muito  arraigadas em seu comportamento, não fica difícil entender porque 42% dos homens e 44,2% das mulheres entre 18 e 34 anos são virgens atualmente. Em relação a pesquisa anterior, realizada em 2010 pelo Instituto Nacional de Pesquisa Populacional e Previdência Social esse índice subiu, em média, 12% entre homens e mulheres. Portanto há um viés de alta.

Além disso, o estudo mostra que quase 70% dos homens solteiros e 60% das mulheres solteiras não estão em um relacionamento. Esses números também estão crescendo. Há trinta anos atrás, quando o estudo começou a ser feito, 48,6% dos homens solteiros e 39,5% das mulheres solteiras não estavam em um relacionamento. Ou seja: em trinta anos quase dobrou o número de pessoas solteiras e sem um outro relacionamento. Em uma população de 127 milhões de habitantes, onde há cerca de 35 milhões de homens e mulheres com mais de 65 anos - ou quase um quarto da população total do país - um índice de fertilidade de 1,4 nascimento por mulher, que vem baixando a cada ano, vai colocar nas mãos do governo japonês um desafio bastante difícil de administrar. 

Mesmo com a boa notícia, apontada por pesquisa recente, onde cerca de 85% dos homens e mulheres entrevistados declararam que pensam em se casar no futuro, a tendência de encolhimento da população japonesa, para os próximos 80 anos, indica que em 2100 o Reino do Sol Nascente terá perdido mais de 35% de seus habitantes.

Levando-se em conta a tendência da baixa fertilidade por mulher/casal (que tende a se acentuar), o aumento da expectativa de vida, e a diminuição do interesse por casamentos, provavelmente no final do século XXI a população japonesa provavelmente terá mais de 60% de homens e mulheres acima dos 60 anos. E provavelmente mais dois milhões de indivíduos com mais de 100 anos.
Um trabalhador japonês desmaiado de cansaço em uma estação de metrô em Tokyo. Photo: Coal Miki/Flikr

O impacto desses números na economia, nas contas públicas, e no aumento dos custos com seguridade e saúde não serão pequenos. Hoje, o fenômeno do "karoshi" - termo japonês para descrever a morte por excesso de trabalho – já atinge jovens com menos de 30 anos. Some-se a isso o peculiar sistema de aposentadoria e seguridade do país e o cenário se torna ainda mais complicado.

No Japão, os trabalhadores se aposentam aos 65 anos e recebem do governo, em média, cerca de R$ 2 mil por mês. Esse valor apesar de parecer alto em relação a nossa aposentadoria mínima, não é suficiente para manter o idoso que dela depende, pois o Japão tem um dos custos de vida mais caros do mundo. A situação era remediada, até poucas décadas passadas, pela tradição. Era comum três gerações de uma mesma família conviverem na mesma moradia. Os filhos mais velhos assumiam a responsabilidade de cuidar dos pais e avós.

Hoje a maioria dos jovens deixa a casa dos pais muito cedo para trabalhar e estudar em outras cidades. O abandono, a desorientação e a solidão se somam a falta de recursos financeiros. E isso tem gerado outro fenômeno peculiar: mesmo sendo uma nação com os mais baixos índices de criminalidade do mundo, as penitenciárias japonesas abrigam uma quantidade expressiva de homens e mulheres idosos. Muitos são reincidentes. Praticam pequenos furtos, geralmente de comida, para serem presos e poderem desfrutar dos bons serviços do sistema prisional. E muitos admitem que preferem a vida em companhia de outros detentos do que a solidão de morarem sozinhos e desamparados.


Todos esses números só ressaltam o desafio do governo da terceira maior economia do mundo – e também a mais endividada - para financiar daqui por diante uma das maiores populações de idosos do planeta, tendo ainda o menor crescimento populacional, que dificulta a reposição de contribuintes que possam manter o sistema funcionando em equilíbrio.

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