No vídeo, uma pessoa com Síndrome do Pânico e ansiedade, filmou o momento que seu cão de serviço, pressente o ataque iminente e avisa ao dono, executando movimentos e comportamento para o qual foi treinado.
Tomei conhecimento hoje do assunto através de uma matéria da BBC. E o assunto é do interesse de muita gente que sofre com a Síndrome do Pânico, associada ou não a outras patologias como depressão ou transtorno de ansiedade. E eu sou uma delas! Convivo com a Síndrome do Pânico a minha vida toda. Mas o diagnóstico correto e início de tratamento só ocorreu há quatorze anos atrás. Por ser uma doença relativamente nova, pelo menos aqui no Brasil, só foi reconhecida e levada a sério pelos profissionais de saúde há menos de duas décadas. Nos Estados Unidos ela começou a ser pesquisada e diferenciada das doenças ligadas a ansiedade somente a partir de 1960. E foi incluída pela primeira vez, no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (3a Ed.) em 1980. A classificação definitiva e oficial, que vigora até os dias de hoje, foi publicada sete anos depois, em 1987, na quarta edição do mesmo manual. E incluída no CID (Classificação Internacional de Doenças).
Durante toda a minha vide tive umas crises de ansiedade leves, que eram caracterizadas por taquicardias, dores abdominais e falta de ar. Eram esporádicas.
Pelo que consigo mel lembrar, começaram por volta dos meus dez anos. Desapareciam assim como surgiam: do nada. E fui tocando minha vida. Sempre fui uma pessoa que gostava de aventuras, viajar, acampar e tive trabalhos em locais perigosos, como plataformas de petróleo e refinarias início da carreira. Inclusive andei centenas de vezes de helicóptero sobre mar aberto para ir e voltar das plataformas. Nunca senti medo. Embora andar de helicóptero não seja uma coisa exatamente agradável para quem tem medo de voar ou de altura. Nada dessas coisas me desencadeavam, pelo menos conscientemente, ataques de pânico. E nunca tive nenhum deles em situações onde, por algum motivo real, estivesse passando por perigo.
foi em 2004 que tive a primeira crise de pânico grave e a mais assustadora de todas até hoje. Foi em Brasília, dirigindo no meio do Eixo Monumental. Fiquei preso num grande engarrafamento na parte dele que passa sob a estação rodoviária, em uma espécie de túnel. Nas semanas seguintes os ataques se tornaram mais frequentes e, se no início eu os associava a estar preso no trânsito, depois passaram a ocorrer em qualquer situação em qualquer lugar. Nessas crises ia sempre parar em pronto-socorros, às vezes no meio da noite. E como falei no parágrafo anterior, chegava a ser ridicularizado por alguns médicos plantonistas - certamente de mau humor, por serem acordados para me atender - que diziam que era apenas estresse, ou mesmo chilique. Foram uns seis meses depois que realmente obtive o diagnóstico e tratamento correto, melhorando bastante. Agradeço até hoje à médica psiquiatra do meu plano de saúde, que me acolheu com carinho e dignidade. E para minha sorte, estudava o assunto e o conhecia bem.
Por que iniciei esse post revelando detalhes tão particulares da minha vida pessoal? A resposta é simples, Apos décadas convivendo com essa doença e como jornalista, acho importante desmistificar e ajudar os que sofrem com ela. Durante todos esses anos minha curiosidade e necessidade de entender essa doença, me fizeram estudar e pesquisar muito sobre ela. Agora, depois de uma dúzia de anos usando medicação controlada, resolvi, junto com o psiquiatra que me acompanha atualmente (ou seja: sob orientação médica segura) desmamar (parar de usar todos os medicamentos). E em mais algumas semanas, depois de diminuir as dosagens gradual e lentamente, finalmente não irei mais usá-los. Não que eu tenha ficado curado, apesar de estar bem melhor e ter aprendido a conviver com a doença. Não vou entrar em mais detalhes porque isso poderia influenciar de forma negativa que estiver a ler esse artigo. E cada caso é um caso.
Mas o que posso dizer é que os tratamentos funcionam. Que no início os sintomas até pioram, mas não se deve abandonar ou desistir deles. Na maioria dos casos há a remissão total da doença e dos sintomas em poucos meses. E a pessoa na maioria dos casos, nunca mais terá uma crise. É importante também reconhecer a própria doença e principalmente perder a vergonha de falar dela abertamente. É importante para o paciente e para as demais pessoas entenderem o que é a Síndrome do Pânico e abandonarem preconceitos e estigmas. E a cada dia tratamentos com novos medicamentos e terapias estão surgindo.
Por isso publiquei esse post e esses vídeos. Neles os pacientes falam do uso de cães de serviços. Do mesmo tipo e com as mesmas leis, que dão certos direitos ao animal e ao dono, dos que são usados para deficientes visuais, diabéticos, pessoas com autismo, epilepsia e outras patologias. Para essas condições hoje provavelmente todos nós já vimos uma pessoa (os deficientes visuais são mais comuns), andando nas ruas, no transporte público e mesmo em aviões com esses amáveis e valiosos amigos caninos, vestidos com um colete azul ou vermelho, que os indentificam como cães de serviço.
Para quem não os conhece, é importante esclarecer, para evitar conflitos que ainda existem, que não se pode reclamar da presença deles e nem do dono em restaurantes, vagões de metro, ônibus, escolas, cinemas, teatro ou onde estejam. Seu direito de estarem ali é garantido por lei. E é crime recusar a admissão deles em qualquer local ou meio de transporte. São animais treinados, obedientes, não agressivos e não oferecem risco algum. Também é importante ressaltar que por mais simpáticos e adoráveis, não se deve brincar com eles ou tocá-los, mesmo para fazer carinho, quando estão trabalhando. Isso pode fazer com que se distraiam momentaneamente e é indelicado com seu dono. Em casa, quando não estão de serviço - eles sabem disso - não usam o colete e podem interagir, se essa for a vontade do dono, com visitas, vizinhos e crianças. Mas sempre perguntando e pedindo autorização ao dono do animal.
Finalmente, cabe ressaltar que aqui no Basil, se cães de serviço são ainda pouco utilizados e autorizados, para os casos de pessoas com patologias mentais como a depressão, a Síndrome do Pânico e até mesmo para pessoas com Síndrome de Down. Cito esse último exemplo porque tenho um filho com SD e sempre achei que seria fantástico que ele tivesse um cão de serviço. Mas nunca encontrei um canil que oferecesse esse tipo de animal. E nem sei se receberiam a licença especial para esse tipo de ajuda. Tenho essa mesma dúvida no caso das pessoas com Síndrome do Pânico. Ainda não conheço canis e adestradores que treinem animais para isso e nem sei se as prefeituras concederiam as licenças necessárias.
Se até mesmo nossa Previdência Social se recusa a aposentar por invalidez (ao menos temporária), milhares de pacientes que pela severidade do quadro não conseguem mais trabalhar e acabam relegados a ficarem em casa dependendo da ajuda de familiares, que dizer de receberem a licença para ter um cão de serviço. Pelo que ví nos vídeos que pesquisei, os donos relataram que graças a seus companheiros caninos, estão podendo levar uma vida quase normal, indo a lugares como escolas, universidades, supermercados, cinemas e viajando sozinhos. Coisas que antes não faziam, ou faziam somente com a companhia de outra pessoa.
Grande abraço e se acham esse post útil a outras pessoas por favor, compartilhem!
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