sexta-feira, 14 de julho de 2017

Jornalismo sem ética...

Mais uma que paga o pato pelo sistema de saúde falido que temos no Brasil e pela máfia das empresas particulares, que ganham bilhões com a precariedade desse mesmo serviço público. Aliás cabe ressaltar, antes de ir ao assunto principal desse post:  o sistema de saúde público do Brasil não funciona somente por conta da corrupção ou também, propositalmente, pelo lobby da industria da dor?  A médica não atendeu e a criança morreu. Monstra! Assassina! Condenem! E se ela tivesse atendido e a criança morresse nas mãos dela a caminho do hospital ou mesmo depois de dar entrada? A mídia e a opinião pública diriam: Assassina, irresponsável, não era pediatra e estava atendendo uma criança com graves problemas! Condenem e prendam! 
Chamada publicada no Facebook pela revista ISTOÉ em 14/07/2017 direcionando para o link disponível em: http://istoe.com.br/medica-que-se-recusou-a-atender-bebe-vai-responder-por-homicidio-doloso/


A matéria, para a qual o link na rede social aponta, é sobre a aceitação, pela Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em 14/07/2017, da denúncia por homicídio doloso contra a médica Haydée Marques da Silva, de 66 anos. A chamada com a foto da criança leva à matéria completa. Na página para onde o link direciona não há foto da médica (principal personagem do fato jornalístico narrado e nem da criança, como pode ser verificado clicando aqui

Ora... colocar a foto do bebê, e expor a família a relembrar a dor da perda, pela imagem, vende mais. Ou melhor, dá mais clicks e page views já que estamos falando no formato digital da revista. Se a matéria é sobre a médica e no texto da mesma são citados ainda o juiz que acatou a denuncia e o próprio Ministério Público estadual, outras fotos poderiam servir para ilustrar a matéria. Na verdade, pelo tamanho e superficialidade, nem de foto a matéria precisaria. Mas colocar a foto da criança vende! E mais: cria comoção, coloca a médica como bode expiatório cômodo para as demais partes envolvidas. 
A acusada concedendo entrevista. Fonte: http://www.avozdepetropolis.com.br/medica-haydee-marques-que-recusou-atendimento-chora-na-delegacia-mas-diz-nao-se-arrepender
Não estou defendendo, acusando, ou julgando o comportamento da médica Haydée, pois isso cometerá a um juri. Muito embora, pesquisando na mídia, vemos que existem relatos de comportamentos inadequados e inadmissíveis e mesmo denuncias que vieram à tona depois desse caso. Mas isso serve para ressaltar que era a foto dela que deveria aparecer na matéria. Não a da vítima. Mas a lógica dos interesses do poder estabelecido é encontrar sempre um bode expiatório que seja fácil de sacrificar sem grande comoção. Alguém, que na hora da subida a guilhotina, não tenha ninguém para clamar por justiça ou clemência. Acima publiquei uma foto da médica, achada sem dificuldade no Google, e que o editor da matéria, se fosse ético, poderia ter usado para ilustrar a chamada no FB ou em qualquer outro local.

Em resumo, esta senhora pode não ser tão inocente quanto afirma, mas os fatos que levaram a morte do menino Breno não foram bem esclarecidos nas reportagens publicadas. Deixam muitas perguntas no ar. E que remetem a velha tática da economia de recursos visando o lucro. Nesse caso inclusive, consta que o garoto faleceu certa de uma hora e meia após a médica deixar o local. E havia outra unidade de UTI móvel próxima. Por que não foi acionada? E mesmo que não houvesse outra no bairro (não estamos falando de uma localidade isolada e sim de um bairro no Rio de Janeiro), demoraria tanto para outra equipe chegar? Enfim são questões que irão aparecer ou não, dependendo de certos interesses, no julgamento...Mas a mídia, a empresa e os demais envolvidos com interesses econômicos já tem seu bode expiatório, culpado ou não.  




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