A artista, coreógrafa e pesquisadora Elisabete Finger. Fonte da imagem: Google. |
Mais um post odioso cai em meu Facebook. Dessa vez, após a
repercussão do vídeo da mãe interagindo junto com uma criança (sua filha) com
um artista durante performance acontecida no MAM-SP, que gerou comentários
grotescos e ignorantes de ódio e recriminação, um jornal resolve atacar e expor
a mãe. Está aberta a temporada das fogueiras! Queimem tudo. De livros a
pessoas. Em nome de um de algo que alguns radicais chamam de cultura. Que
cultura?
Há sim uma polarização. E toda polarização, quando há espaço
para a discussãoo democrática e não violenta é saudável. Há sim uma certa
radicalização em um dos lados. Resposta natural de quem não aceita mais – para
além do próprio radicalismo ditatorial – a exclusão, o preconceito e a
invisibilidade. Para falar apenas uma parte do que passam os excluídos do que
não interessa ao sistema. É sua forma de resistir, sobreviver e denunciar.
Há também, de maneira mais nefasta, uma radicalização pelo
lado do establishment. Dos grupos que
julgam deter o controle das coisas porque aasim acham que deve ser.
Legitimam-se pelo discurso de que o que está estabelecido pela maioria deva ser
a regra. Mesmo que a regra seja injusta e continue a agir como mecanismo de
garantia de privilégios seculares.
No espaço entre esses dois polos, abre-se o vazio. Ou para
usar um conceito contido no trabalho da mulher agora transformada em “mãe sem
escrúpulos, seguidora de um partido e usurpadora de benefícios do estado, abre-se
o Buraco. Voçoroca que vem engolindo amplos espaços de terreno que poderia ser
produtivo e fértil. Nas bordas desse fosso atiçam-se, insultam-se e lançam
pedras e pedaços de ossos, uns nos outros, como hominídeos na famosa cena de
abertura de “2001: Uma odisseia no espaço” (Stanley Kubrick – 1968). Por
enquanto, como na cena do filme, estão afastados por esse espaço, que amedronta
os dois grupos. Mas falta pouco para que um lados, incentivado por um indivíduo
mais violento e colérico, avance sobre esse espaço, transpondo-o e iniciando o
massacre de um rival.
A pessoa que agora também vira
alvo das bordoadas do grupo de símios enfurecidos, é a artista plástica,
dançarina, pesquisadora e coreógrafa professo Elisabete
Finger (Foz do Iguaçu -1980). Veterana, já realizou diversos espetáculos no Brasil
e no exterior. Possui um mestrado em dança realizado na Alemanha. Sua linha de pesquisa é a relação do
espaço-corpo com os demais espaços onde esse se represente. Trabalhos parecidos
com o do colega a quem tocou e permitiu a filha tocar o corpo-objeto de arte,
durante uma performance. Para quem quiser conhece-la melhor, eis um vídeo com a artista falando de sua trajetória:
Por isso levou a filha à
abertura da mostra, onde atuaria o colega de profissão. Por isso (e fica bem
claro no vídeo para quem conhece o assunto) ela ao final da interação, colabora
com a proposta do colega, re-posicionando seu braço e cabeça antes de se
afastar. A filha, certamente acompanha a mãe em sua carreira, desde muito nova,
vendo a mãe estudar e pesquisar em casa, acompanhando-a em ensaios e
provavelmente em muitas performances e montagens. . Afinal mulher tem que
carregar sua cria até para poder trabalhar. E filho de artista dorme na coxia.
Por isso é fácil de enxergar
(para os racionais) que a menina, tem uma certa hesitação em tocar os pés do
artista, não por vergonha, mas provavelmente porque aprendeu desde cedo que não
se toca ou interfere em uma obra de arte ou instalação ou performance, sem que
se seja convidado. E também fica bem claro no vídeo que a criança não tem o
menor interesse em olhar ou tocar nas partes íntimas do artista. Provavelmente
por já entender desde muito nova que um corpo nu, dependendo do espaço e
momento, é apenas um objeto, artístico ou não.
Mas negando ou fingindo não ver o contexto, o tal Jornal da
Cidade, dirigido por José Tolentino, preferiu ferir a dignidade da mulher, da
mãe, da pessoa de Elisabete Finger. E não satisfeito com isso, tenta difamar a
carreira sólida profissional da artista e pesquisadora, chamando-a de “mãe
displicente e fervorosa militante petista e beneficiária da Lei Rouanet”.
Típico discurso sem caráter ou ética que tenta sobrepor três ideias distintas,
mas com forte apelo emocional e radicalizaste com o objetivo de causar maior
dano.
E o mais triste disso tudo é que consegue manipular a massa
ignorante que lê sem entender esse tipo de conteúdo rasteiro e vazio sem
questionar. É pior ainda ver a quantidade de seguidores que consegue. A
quantidade de hits em seu site, que leva a uma remuneração indecente e pior que
tudo: a tristeza de ver como as pessoas em torno do “buraco” se assanham mais
como humanoides prestes a romper o espaço ainda seguro do campo que separa a discussão
da brutalidade.
Ah, tá!
ResponderExcluirAh, tá!
ResponderExcluirQue bom que alguém conhece a mãe, para finalmente desmistificar o vídeo anônimo que só está interessado em fazer sua interpretação do que houve e não a verdade.
ResponderExcluirParabéns pelo texto e obrigado por nos mostrar o trabalho lindo da mãe, que também é artista! ❤️
Obrigado pela leitura Allan e pelo comentário lúcido. Esses limites entre as fronteiras das Artes com o estabelecido sempre existiram e existirão. A discussão pode e deve acontecer, entro do limite do respeito e das liberdades democráticas. O que não podemos aceitar nesse e em outros temas é o radicalismo e o ódio, principalmente o manifestado por gente sem coragem que se esconde na sensação de anonimato das redes sociais. Grande abraço!
ExcluirComentários de ódio ou contendo ofensas ao blog ou a artista não serão publicados.
ResponderExcluirPedófila! se fosse um regime como o de 64 a 85, ia tudo pra cadeia, e hoje iam estar dizendo que o artista foi censurado e perseguido indevidamente.
ResponderExcluirPrezado João Paulo, obrigado pela leitura e pela visita. Segundo a definição legal de pedofilia e o próprio significado do termo em qualquer dicionário de língua portuguesa, nada do que se passou no evento pode ser classificado como tal. Quanto ao período de 64/85 a que se refere, foi durante ele que a artista Lygia Clark, que inspirou o trabalho exibido pelo coreógrafo no MAM, foi criada e apresentada diversas vezes durante o regime militar. E realmente, foi um período triste onde muitas pessoas foram injustamente presas e torturada. Provavelmente se voltarmos a viver em um regime desses, como desejam alguns, eu que escrevi e mantenho esse blog e você que o está lendo, poderíamos ser presos por isso. E onde fica a liberdade e a justiça? Grande abraço!
ExcluirMas qual a utilidade desse tipo de arte?
ResponderExcluirObrigado pela visita e pela leitura Fernando. É uma pergunta bastante complexa. Assim como vc, muitas pessoas, em milênios, se perguntaram a mesma coisa. A arte não tem necessariamente que ter um sentido. Seria como se perguntássemos qual a utilidade da vida ou da felicidade. Todas são manifestações da natureza. E cada um de nós sente ou encontra um sentido próprio para cada uma dessas coisas. E talvez esse sentido, ou resposta, seja questionar. A arte como manifestação emocional de quem a cria, tem o sentido, para essa pessoa, de questionar o mundo em que vive para encontrar respostas para si mesmo. Grande abraço!
ExcluirUm convite à Elisabete Finger e seus admiradores. Visitem as salas de bordéus em São Paulo e por todo o Brasil onde se apresentam performances pornográficas. Sua linha de pesquisa é a relação do espaço-corpo com os demais espaços onde esse se represente. Não esqueçam de levar seus familiares, principalmente seus filhos. Sobre o anonimato da postagem (rsrsrsrsrs) Se são a favor da liberdade de expressão por que não assumir que permitiram a tal filmagem apenas para confrontar a cultura do povo brasileiro. Apenas como informação; também sou formado em Arte e tenho absoluto conhecimento do que é expressão artística e o que é erotismo e pornografia.
ExcluirPrezado Leo, grato pelo seu comentário. Permita-me não concordar com sua comparação. Salas de bordéis podem exibir espetáculos com ou sem sexo explícito, com conteúdo adulto. pornográfico ou o que seja. MAs são espaços bem diferentes de um museu ou galeria de arte. Vc como artista sabe disso. E quanto a ter "absoluto conhecimento"sobre qualquer tema... cautela amigo... nenhuma ciência ou ser humano tem domínio absoluto de tudo. Mesmo porque tudo está em constante mudança. Grande abraço!
ExcluirOla
ResponderExcluirOlá. Seja bem vindo ao blog.
ExcluirSr Marcelo Ruiz, primeiramente gostaria de parabenizá-lo pela educação nas respostas. Acredito que pelo diálogo que chegamos a conclusões e consensos. A grande questão, para mim, é a similaridade da arte em questão com objetivos da chamada política esquerdista. Haja vista que há imagens e vídeos da Elisabete Finger onde a mesma proclama "Fora Temer", e também apoio ao Partido dos Trabalhadores. Isso nos leva a crer que ela seja uma esquerdista. Então, ligando uma coisa à outra, fica difícil não imaginar que haja alguma mensagem por trás da arte exposta, pois há coincidências com vontades de partidos e pessoas ditas esquerdistas (não apenas no Brasil, mas em qualquer outro país), como a tentativa de legalização da pedofilia, a erotização de crianças, fim da estrutura familiar, etc. São coincidências que fazem com que seja muito difícil não imaginar que haja algo por trás disso.
ResponderExcluirPrezado Marcio, também acredito no diálogo, principalmente entre extremos, para a solução de conflitos e prevalência do bem comum. Quanto as orientações políticas da artista, eu penso que, todos nós temos o direito de ter e manifestar essas posições. Eu, particularmente, como artista, prefiro não manifestar ou apoiar nenhuma ideologia política, exatamente para permanecer livre para criticar os vários lados. Como cidadão acredito que a melhor forma de governo (porém sabendo ua utopia) seira a anarquia (bem entendida aqui como ausência de um governante superior ao povo). que cada um fizesse o que é correto e benéfico para si e para sua pátria. Talvez vejamos isso em alguns séculos para a frente. Quanto a ela se manifestar contra o Temer e proclamar-se simpatizante do PT é um direito. Não podemos generalizar as coisas, como estamos fazendo. Em diversas democracias existem partidos dos trabalhadores. Cada um com uma orientação e uma filosofia. Em qualquer partido, no mundo haverão elementos mais radicais, pessoas corruptas e com correntes diversas da orientação central. Com certeza não serão todos os petistas aqui no Brasil, corruptos ou lunáticos. Podemos tomar o exemplo da Noruega, que é um dos países mais igualitários do mundo e com um alto padrão de qualidade de vida e justiça social. Se olharmos para a situação deles em 1920, veríamos um país com alto índice de pobreza, baixa escolaridade e um grande concentração de riqueza. Nem independência territorial havia, já que a Suécia e a Suíça governavam pedaços de seu território. A mudança se deu principalmente entre os anos 20 e 40 do século passado. Como os trabalhadores se unindo em sindicatos e cooperativas. E qual foi a principal inspiração deles naqueles anos? O marxismo de Lenin na vizinha Rússia. Portanto o que começou com a reunião do povo em torno de um partido comunista se tornou, nos dias de hoje uma social-democracia onde partidos mais radicais não tem muita representatividade. Sinceramente não consigo ver uma "agenda" petista maquiavélica por trás das exposições recentemente demonizadas. Grande abraço!
ExcluirJá que não é pedofilia como se chama ficar pelado e ser tocado por uma criança? Eu quero saber por favor
ResponderExcluirRealmente, parabéns pela polidez ao responder Marcelo, de qualquer forma, penso que foi uma infelicidade geral esta mostra com crianças, lembrando que não apenas uma criança tocou o "homem nu", há uma imagem de mais meninas, de mãos dadas a ele. Crianças são plásticas, por isso deve-se cuidar muito com o que vêem, tocam, interagem.
ResponderExcluirPrezada Simone, trato meu próximo como gosto de ser tratado. Só isso. Aproveito para responder ao leitor Jobson, que tb se refere ao "homem pelado" ou "homem nu". Eu não vou tentar explicar a diferença entre uma pessoa nua em determinados contextos e um artista nu ou uma obra de arte que mostre um corpo nu. Teria que escrever um livro aqui nesse campo de respostas. E mesmo assim muitas pessoas continuariam sem entender. Além disso, outras pessoas com mais conhecimento ou autoridade no assunto (mesmo considerando que sou artista e professor de artes) já escreveram livros sobre o assunto "o corpo como suporte da arte". A minha percepção, que serve só para mim, logicamente, é que ali não estava um homem nu e sim um artista usando o seu corpo como objeto ou suporte para uma intervenção artística. Convencer quem está rigidamente convencido que aquilo (no sentido de coisa acontecida) era um "homem pelado" sendo tocado por crianças indefesas é o mesmo que ir a um parque na Alemanha em um domingo de sol e tentar convencer as centenas de homens, mulheres e crianças que estão ali nuas para pegarem sol é algo pornográfico ou que elas estejam praticando pedofilia por estarem perto de crianças também sem roupa. Grande abraço!
ExcluirOla Marcelo
ResponderExcluirNada contra a pessoa da Elisabete, não estou aqui para comentar sobre a pessoa e sim sobre a participação da arte no museu junto com a sua filha de 6 anos.
Artística tem o direito de expressar aquilo que ele acredita e crê, em relação a isso não tem o que questionar.
Acho que nesta exposição se tivessem apenas pessoas adultas não teria problema até porque são responsáveis pelos seus atos e assistem o que bem entende.
O que me deixou preocupado foi com a participação de uma criança de 6 anos, como a criança pode ter uma capacidade de separar o que é nu artístico ou não?
Se na cabecinha dela ter contato com homem nu é absolutamente normal, para ela não tem distinção. Acredito que para criança que ainda está se desenvolvendo não acho prudente esse tipo de contato.
Nosso país é conhecido no exterior como o país da sexualidade, país da "liberdade".
Nosso país tem o maior índice de mães solteiras e a cada ano esse número aumenta.
Nossa programação televisiva tem um índice alto de cenas de "sexo" ou nudez (claro nao explicito).
Jovens entre homens e mulheres são por exemplo viciados em pornografias e acabam tendo problemas sérios com essa pratica.
Arte é importante mas tem muito arte de pessima qualidade como em qualquer segmento.
Minha preocupacao são com as crianças que acabam sendo vitimas de pedofilia, abuso são as vezes vitimas de prostituição.
A liberdade é importante mas precisa ter alguns limites, não posso sair fazendo tudo que acho certo pode gerar consequências ruins para a minha vida.
Abs
Flavio Lavecchia
Prezado Flávio,
ExcluirObrigado pela visita ao blog e pela leitura. Todos nós, pessoas conscientes e éticas, artistas ou não temos essa preocupação com nossas crianças. No caso da filha da artista Elisabete Finger, creio que esta tenha discernimento suficiente, já que deve acompanhar a mãe, como fazem os filhos de artistas, desde pequena em ensaios, performances e exposições. Grande abraço!