sábado, 2 de setembro de 2017

Ritual de onanismo...


A quem interessa a polarização da discussão sobre a violência? O assunto é polêmico e pedradas são esperadas. Todas e todos conhecem minha postura frente ao machismo e a violência de gênero. Em relação ao caso em voga nas redes sociais, é evidente: mais uma vez ouve descaso da Lei. Não ha o que discutir. Mas na verdade há muito a ser repensado. E relativizar não adianta. Particularizar não resolve. Se for pra relativizar, poderia ser dito que em virtude das centenas de mulheres que recebem em suas faces socos, bofetadas, ácido, facadas, tiros e outros tipos de agressão não física, uma ejaculada no pescoço é o de menos. Menor potencial ofensivo, no jargão da lei.
Se for para colocar na perspectiva da importância, as mais de 100 mil mortes violentas de civis que ocorrem no Brasil a cada ano, tem prioridade sobre todo o resto. Tratar a violência e sua discussão como departamentos separados interessa a quem? O que se quer acobertar e quem o quer fazer? O sujeito que ejaculou no pescoço da moça não é primário.  Tem passagens e processos pelo mesmo crime. Já deveria estar preso desde o primeiro delito. Julgado e trancafiado. Ou em uma penitenciária ou em um hospital psiquiátrico, caso fosse contatada alguma patologia mental.

Em um Estado falido, moral e economicamente falando, se relativiza tudo. Médicos tem que escolher a quem salvam diariamente nos hospitais. A polícia escolhe o crime a ser investigado ou combatido com seus critérios tortos. Os juízes escolhem - é aqui são vários os interesses - a quem vão julgar ou condenar. Volto à velha canção. O Haiti é aqui. Nos tornamos como um país assolado por catástrofe da natureza. Embora, em nosso caso e ao contrário das naturais, não se possa dizer que não era previsível. As equipes que chegam para os primeiros socorros, tem que relativizar e priorizar o tempo todo. Trabalhando com poucos recursos, a escolha sempre recai no que está em estado grave. E em diversos graus, haverão aqueles, que mesmo feridos, não receberão, pelo menos inicialmente, nenhum tipo de assistência.

Dessa forma vamos tocando o Brasil. Sem conseguir sair desse terremoto interminável. Ao fazer escolhas sobre a quem vamos atender primeiro, deixamos de lado muitos moribundos. Se isso interessa, como estratégia, para tentar salvar mais vidas em um primeiro momento, não resolve o todo. Só a reconstrução resolve. E com soluções inteligentes e preventivas. no caso de terremotos, a mudança de cidades inteiras para sair das áreas de falhas geológicas, a construção de prédios mais resistentes e uma rede de alarme e suporte eficiente.

Em todas as catástrofes não previsíveis, há uma curva de aprendizado. Essa leva a um aumento da eficiência em socorros futuros e na busca de soluções de prevenção. No Brasil, estamos sendo sacudidos por terremotos, tsunamis, furações, tornados, erupções vulcânicas e inundações sem que consigamos passar da fase dos primeiros socorros. Ficamos na discussão de quem salvar. Mas não conseguimos pensar em reconstrução. Não dá tempo. A omissão parece ser a regra causadora de novas catástrofes. Todas anunciadas. É como se todos nós, num ritual onanístico, gozássemos na cara uns dos outros.

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